sábado, 2 de julho de 2016

Virada na vida

 domtotal.com
Por Gilmar P. da Silva SJ*

Metade do ano já se passou e o cansaço bate a porta. É aquele momento de exclamar: “Gente, o ano tá voando!”. E se seguir as constatações de “E eu não fiz nada” ou “Se já aconteceu tanta coisa até agora, não quero nem ver o que vai acontecer”. Esses meios de ciclo são importantes para fazer uma revisão de vida e ajustar o que se precisa.

Quem não tem férias em julhos não poderá parar para se dedicar aos acertos necessários, vai ter que trocar o pneu com o carro andando. Contudo, a vida é assim mesmo, ela não para. Na verdade, temos a sensação de pausa nos fins de ciclos ou quando descansamos de alguma atividade, como acontece ao fim de um semestre letivo. Não obstante, a maioria dos problemas continua lá. Sabe por quê? Porque muitos deles não dizem respeito às atividades que fazemos, mas ao modo com que as vivemos.

Pego o exemplo da vida acadêmica. Ao início do semestre, geralmente, estabelece-se a maioria dos métodos avaliativos e suas datas. Muitos dos trabalhos têm como prazo final o mesmo período que a realização de provas, o que torna necessária a realização dos primeiros com antecedência em relação às segundas. Porém, como existe um prazo final, muitos não o enxergam como limite de um período que pode ser antecipado. Quando se diz “até tal data” não quer dizer que há impossibilidade de se fazer antes, mas, com frequência, tal expressão parece exclusividade, como se dissessem “só nesta data”.

Essa tendência à procrastinação é mais comum do que se parece. Ela pode advir, entre inúmeras razões, do medo do conflito, da preguiça, da desorganização ou mesmo de certa soberba que confia no próprio talento: “na hora eu dou conta”. O problema é que a carga que poderia ser distribuída ao longo de toda uma temporada é concentrada num curto espaço de tempo, gerando sobrecarga física e mental e levando ao estresse a própria pessoa e quem mais estiver ao seu redor. O agravante está na repetição com que isso ocorre.

Às vezes a vida precisa de uma virada. Se se percebe o cansaço que um modelo assim de vida gera, há de se experimentar outros modos. Nesse sentido, as religiões têm algo muito interessante em seus processos de iniciação. O iniciando primeiro passa por um período de preparação, onde faz uma revisão da vida que leva, quando precisa reconhecer a falência do modo atual com que vive. Trata-se de um caminho purgativo necessário para que não se volte ao que se quer deixar, o que costuma ser feito com certa dor. O segundo momento está na descoberta e aprofundamento do modelo novo de vida. Esse é o momento do encantamento, da iluminação, quando se experimenta a resposta ao fracasso anterior. A terceira etapa é marcada pelo pedido a fazer parte daquela nova realidade e a admissão à comunidade dos que já a vivem, com o ritual de transição.

Os ritos de passagem são fundamentais não só para se celebrar a nova vida, mas também para marcar o fim da anterior. Tal experiência religiosa também é vivida nas esferas laicais. Assim acontece com muitos que se “despedem” da comilança antes de uma vida finess ou dos que se jogam na esbórnia previamente à seriedade dos compromissos que deverá assumir. De igual modo, frente aos fracassos, faz-se mister uma virada. O processo é esse que já foi dito: reconhecer o que não dá mais, aprofundar no modelo novo, adotar uma ação simbólica que marque a transição. Já é hora de virar?

Virada Cultural

Já saiu a programação da Virada Cultura de BH. São vinte e quatro horas, ininterruptas, de programação artística e cultural, com muita música, teatro, dança, circo, literatura, artes plásticas, artes cênicas, artes visuais, performance, moda, gastronomia e muito mais. O destaque desta quarta edição são os nomes de Elza Soares, Sandra de Sá, Criolo, Lenine, Chico César, Renegado, projeto Cine Pedal Brasil, Trupe Gaia e Giramundo, que irão compor este grande evento. A Virada está programada para o dia 09 de Julho e tudo o que vai acontecer pode ser conferido no site viradaculturalbh.com.br.


*Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.

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