quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Sepultando o mundo verde

 domtotal.com 25/08/2016

Quase um quarto de todas as mortes no mundo são causadas por riscos ambientais.

O trecho a seguir está em O Caçador de Histórias, último livro do saudoso Eduardo Galeano, falecido em 13 de abril de 2015: “Os desertos estéreis e as plantações industriais em grande escala avançam sepultando o mundo verde (...)”.

Esse lacônico comentário remonta a uma profunda reflexão: a economia que “mata” o meio ambiente, desequilibrando-o pela exploração desenfreada de recursos naturais, “mata” de igual maneira vidas humanas.

Quase um quarto de todas as mortes no mundo são causadas por riscos ambientais, como ar poluído, água suja, locais de trabalho arriscados e estradas perigosas, de acordo com recente relatório produzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Dados divulgados pela OMS estimam que 12,6 milhões de mortes em 2012, ou cerca de 23% do total, foram atribuídas a esses fatores, desencadeado, principalmente, pelo modo de avançar das economias industriais, sem qualquer noção e respeito aos limites da natureza.

À medida que vamos sepultando o mundo verde, vamos pagando elevado preço pelas condições de vida. Apenas no período compreendido de 1970 a 2008, 28% da biodiversidade da Terra foi perdida.

Na atualidade, são mais de 15 mil plantas e animais que estão ameaçados de extinção, incluindo cerca de um terço de todos os anfíbios, um quarto de todos os mamíferos e um oitavo de todos os pássaros.

Os oceanos – o maior dos ecossistemas – em 2048, segundo dados da FAO/ONU, não nos fornecerão mais alimentos, dada à taxa de extração exagerada que vem sofrendo; vinte e cincos por cento dos solos do planeta estão hoje degradados e a tendência é que isso aumente ainda mais nos próximos anos.

Das 17 reservas pesqueiras conhecidas, 11 delas possuem taxas de retirada maior do que a capacidade de reposição. Ainda em relação aos peixes, 75% dos estoques mundiais das espécies mais vendidas no mundo estão no limite da sua capacidade de recuperação ou além desse limite. Entre 1995 e 2005, algumas espécies como o bacalhau, o hadoque, o badejo e o linguado caíram 95% no Atlântico Norte.

Das terras firmes conhecidas do mundo, 4 bilhões de hectares encontram-se esgotados. Por ano, perde-se mais de 7 milhões de hectares. São 20 mil hectares por dia, o que equivale a uma superfície diária que corresponde a duas vezes o tamanho de Paris.

Nada menos que 20% dos recifes de corais do planeta foram destruídos. Nas últimas três décadas (de 1990 para cá), foram perdidas 35% das áreas de manguezais.

Alguns países perderam até 80% por meio da conversão para aquicultura, superexploração e tempestades, as florestas desapareceram por completo em 25 países e outros 29 países perderam mais de 90% de sua cobertura florestal.

Todos os anos, segundo dados publicados pela Save the Earth Foundation, 200 mil km2 de florestas tropicais são destruídos de forma permanente, ocasionando a extinção de aproximadamente mil espécies de plantas e animais.

Esses são alguns de tantos outros sinais que mostram claramente uma queda acentuada da produtividade biológica da Terra.

Esses são alguns poucos sinas da deterioração ambiental, fruto da atividade humana ter ignorado os limites da natureza. Esses são alguns poucos sinais que evidenciam que, enquanto de um lado a economia cresce, do outro o meio ambiente diminui e se enfraquece.

Esses são apenas alguns poucos dados do atual sepultamento do mundo verde. Triste realidade!

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental prof.marcuseduardo@bol.com.br

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