sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Dom Paulo Evaristo Arns – vida compartida em amor e compaixão

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Por toda uma vida, de longos 95 anos, simbolizou a fraternidade e a bondade em si.
Nada o abalou, nada o amedrontou.
Nada o abalou, nada o amedrontou. (Reprodução)
Por Eleonora Santa Rosa*

Doce dom Paulo.

Bondade em pessoa, humanidade exercida em prática e crença na liberdade do espírito e na libertação da servidão e pobreza.

Luta sem fim contra o ódio, a boçalidade da tortura, a truculência travestida de mentiras e sonegação por aqueles que mataram, violentaram e se apoderaram do poder em meio a fardas e fanfarras.

Não se calou, não se curvou, não se omitiu. Representou a verdadeira igreja de Cristo, de benevolência, misericórdia, acolhimento e generosidade.

Por toda uma vida, de longos 95 anos, simbolizou a fraternidade, a bondade em si, a doação de amor e compreensão.

Sabia do perigo, das ameaças à espreita, da infame escuta clandestina, da vigilância full time, sabia que podia desaparecer.

Tentaram imputar-lhe culpas e comportamentos condenáveis.

Torpes miseráveis de farda e gravata na forja constante de intrigas, calúnias e golpes baixos.

Nada o abalou, nada o amedrontou.

Bancou de frente o carrasco Médici, o esquadrão da morte, os seus detratores.

Estendeu seu manto de cardeal a todos que o procuravam, ao povo sofrido sem eira nem beira.

A doce firmeza do franciscano Paulo, do amado Dom Arns, o incansável vigário do bem.

Lúcido, soube a hora certa de sair de cena, mas não da vida religiosa.

Não se dobrou às mudanças impostas pelo Vaticano, ao fatiamento de sua Arquidiocese, ao esvaziamento de seu poder, saiu como Arcebispo Emérito.

Inesquecível seu culto ecumênico dedicado a Wladimir Herzog, assassinado cruelmente nas dependências do DOI/CODI, no Segundo Exército, morte dada publicamente como suicídio. Indecentes assassinos acossados pela coragem de Dom Paulo.

Durante muito tempo desempenhou o papel crucial de guardião dos direitos humanos.

Foi-se agora num momento muito difícil para o país, tão carente de condutas, gestos, falas e práticas imbuídas de verdadeiro senso moral e virtude.

Em tempos tão indigentes como os nossos, que faltará fará.

Que venham cantos, prantos, homenagens, missas, cultos, celebrações em sua memória, louvando sua dignidade, coragem, senso de justiça, sua vida dedicada aos mais humildes e marginalizados no mais completo abandono.

Homem de Deus, homem de valor, homem que dignifica esta nossa espécie tão (in)significante e, às vezes, tão bestial.

Segue seu caminho querido Dom Paulo, o céu, em festa, rejubila-se por sua chegada, seu lugar está guardado ao lado daquele que foi seu exemplo e esteio.

Junto ao Altíssimo estenda de novo seu manto, em dimensão astral, e proteja-nos de nós mesmos e daqueles que destroem o país.

*Eleonora Santa Rosa - empreendedora cultural, jornalista e produtora. Exerceu diversas funções públicas, tendo sido Secretária de Estado da Cultura de MG de 2005 a 2008. É fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural.

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