sábado, 2 de dezembro de 2017

A pertinência da Teologia: a legitimidade de um saber

domtotal.com
A Academia relega a Teologia e os estudos de religião aos ambientes eclesiásticos. Eis um desafio a ser vencido.
Mesmo que a Teologia tenha por característica a confessionalidade da fé, ela é um saber legítimo que pode contribuir com o grande debate sobre o humano e sobre o mundo.
Mesmo que a Teologia tenha por característica a confessionalidade da fé, ela é um saber legítimo que pode contribuir com o grande debate sobre o humano e sobre o mundo. (Reprodução/ Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*

No Brasil, a Teologia tem assumido um caminho de desenvolvimento. Nos últimos anos, chegou a ser reconhecida pelo MEC, o que é passo importante no processo de publicização deste saber que, é preciso com insistência dizer, não se destina apenas aos setores eclesiais. Mesmo que a Teologia tenha por característica a confessionalidade da fé, ela é um saber legítimo que, sem dúvidas, pode contribuir com o grande debate sobre o humano e sobre o mundo. Nesse debate, a participação da Teologia não é por meio de um discurso piegas, tal como muitos possam pensar. Há uma inteligência na Teologia capaz de, com bastante legitimidade, dialogar com outras fontes do saber, tal como já acontece em muitos países do mundo e que já há algum tempo temos ensaiado em nosso país.

Um verdadeiro desafio a ser vencido, em nosso cenário acadêmico, são as influências positivistas em nossa Academia, que relega a Teologia e os estudos de religião aos ambientes eclesiásticos. Há um medo de que tanto a Teologia quanto os estudos de religião sejam uma defesa da religião ou, até mesmo, um proselitismo a macular a cientificidade da Academia. Não é sem razão que não há, em nosso país, nenhuma instituição superior de ensino pública que ofereça um curso de Teologia. Sintomático, também, é o fato de que os centros de formação teológica sejam, em sua maioria absoluta, de Teologia cristã, com exceção da Faculdade de Teologia Umbandista, em São Paulo. É preciso, pois, avançar no desenvolvimento de uma Teologia, academicamente reconhecida e legitimada, também de outras religiões. Há um longo caminho a se percorrer!

Diante de tudo isso, há uma pergunta deveras importante a ser respondida: Teologia é coisa de padre?, sobre a qual se debruça o artigo de Tânia Mayer. Não há dúvidas de que a formação teológica é um elemento essencial e indispensável para a formação do clero. Contudo, a compreensão de que essa formação se destina exclusivamente à formação presbiteral é equívoca e redutiva do papel da Teologia. No artigo, a autora reflete a respeito da importância de uma formação teológica sólida para quem tem fé, como tarefa e direito, como caminho de dar sentido à própria esperança.

O segundo artigo de nossa matéria, A coisa pública como questão teológica, de Fabrício Veliq, insiste no caráter público da Teologia, que ultrapassa o ambiente eclesiástico. Ao mesmo tempo, o autor chama a atenção para a importância de a Teologia assumir sua posição de defesa e cuidado para com a coisa pública, voltando seu olhar para temas que sejam do interesse de todos, isto é, contribuindo com uma efetiva práxis que propicie a transformação da sociedade rumo à justiça.

Amarrando toda a reflexão até aqui proposta, está o terceiro artigo, Por uma teologia em flor, de Rodrigo Ladeira. Se, como acreditamos, a Teologia tem uma palavra responsável a dizer ao mundo, que essa palavra seja de compreensão desse mundo e das múltiplas possibilidades de seu desenvolvimento e humanização. No artigo, o autor faz uma análise de nossa sociedade contemporânea, bem como das posturas eclesiais – por isso, também teológicas – diante dessa sociedade, convidando a um florescimento da teologia, na assunção do frescor do Evangelho.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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