quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Como o novo álbum de Taylor Swift manifesta nossa 'fall from grace' ou 'queda da graça'

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Reputation é outro exemplo do uso intrigante que Swift faz de imagens religiosas para retratar o amor e o sexo.
O último álbum de Taylor Swift 'Reputation' tornou-se o álbum mais vendido do ano nos EUA.
O último álbum de Taylor Swift 'Reputation' tornou-se o álbum mais vendido do ano nos EUA. (DeSlo / ZUMA Wire / REX / Shutterstock)
Por Katherine Backler

O último álbum de Taylor Swift parece ter uma premissa muito ousada, mas as novas jogadas (incluindo um "vocoder" que eletronicamente "remixa" sua voz) exemplificam o seu brilho de costume - como compositora, autora, musicista e uma grande irmã para  seus milhões de fãs. Mesmo as falhas do álbum são atraentes. A sutileza nunca foi o forte de Taylor, mas a aspereza  eventual de reputation  é, para muitos, divertida ("If only you weren’t so shady", ela ridiculariza e lamenta em "This Is Why We Can’t Have Nice Things”). Como sempre, há algumas metáforas estranhas  sem sentido ou mesmo  clichês ("If he can be a ghost then I can be a phantom”;  "They’re burning all the witches even if you aren’t one"). Mas essa literalidade vergonhosa não é bastante familiar entre os adolescentes desajeitados e sentimentais como a maioria de seus fãs – por acaso estes trocadilhos literais são inteiramente estranhos à idade do jovem adulto?

Além disso, às vezes essa literalidade é expressa com genialidade. "Gorgeous" apresenta os terrivelmente atraentes “ocean blue eyes/looking in mine/I think I might/sink and drown and die", bem como o cômico e honesto verso: "You’re so gorgeous/I can’t say anything to your face/Cos look at your face". Quando a música foi lançada, alguns fãs fizeram vídeos dançando e  fazendo caras e bocas, e Swift os compartilhou com prazer. Sua sensação de diversão, que partilha com seus fãs, ajudou a marcar o álbum com o brilho próprio da Taylor Swift.

Reputation é outro exemplo do uso intrigante que Swift faz de imagens religiosas para retratar o amor e o sexo, tanto para tratá-los como pecaminosos ("I would fall from grace/Just to touch your face") quanto para para consagrá-los ("King of my heart,/body and soul"). Da mesma forma, em "Red", a segunda música de seu álbum homônimo de 2012, ela canta que seu relacionamento é "passionate as sin", onde "pecado" parece realmente significar "luxúria" ou mesmo "sexo". A música anterior é "State of Grace", que retrata o relacionamento como possibilidade de redenção religiosa.

Algo  óbvio nos álbuns anteriores de Swift é a "cultura da pureza", que afirma que as meninas que fazem sexo antes de casar são sujas e inferiores. A música mais marcante é "Innocent" (2010), em que ela tranquiliza uma jovem fã imaginária (mas muito real) que, embora tenha cometido erros (sexuais?), ela afirma: "You’re still an innocent". Esse teor  se mantém em reputation (ela agradece que seu namorado "a ame como ela é, nova"). Todavia, o mais importante parece ser quando "Cantando para 65 mil fãs em Hyde Park há dois anos, Swift cantou a frase: ‘suas roupas estão no meu quarto’ com um gesto muito hilário e engraçado por cima das cabeças de seus menores fãs, alguns dos quais estavam usando camisas da turnê e vestidos até o tornozelo. Em "Dress", uma das músicas do álbum reputation (2017) não há piscar de olhos: "I don’t want you like a best friend", ela canta, "Only bought this dress so you could take it off".

Taylor tornou-se famosa por suas músicas sobre términos,  o alvo principal que os críticos adoram ridicularizar. A mais importante é "Dear John", no qual ela concorda com um relacionamento abusivo e, eventualmente, coloca a culpa em seu lugar certo: no abusador, a quem ela chama pelo nome no título. A música é uma celebração triunfante de seu próprio pós-rompimento: "I’m shining like fireworks over your sad empty town".

Mas, como mestre no livro do Eclesiastes (praticamente) diz: há um tempo para derrubar (ou acabar um relacionamento) e um tempo para construir. No álbum reputation, a preocupação da Swift é construir relacionamentos, a partir da confusão, do respeito, da intimidade e do trabalho cotidiano de compartilhar e de perdoar. O álbum celebra a emoção deslumbrante do desejo e a preciosa mundanidade de ser uma pessoa inteira que coopera com outras. Na música final, os sintetizadores dão lugar a acordes de piano, guitarra acústica e à voz inalterada de Swift. A festa da Véspera de Ano Novo terminou, deixando o "brilho no chão" e os restos cotidianos que seguem após uma grande noite. Ela e seu namorado estão arrumando a casa juntos. Ela canta: "I want your midnights/But I’ll be cleaning up bottles with you on New Year’s Day". É maravilhosamente romântico.

Sem querer ir muito longe, o álbum é um exame e uma celebração da condição humana em toda sua preciosidade bagunçada. Swift, como ela canta no álbum, pode ser mesquinha, vingativa, ciumenta, sarcástica e assustadora - como a maioria de nós. Mas ela também pode ser profundamente afetuosa. Ela gosta do glamour mas é capaz de reconhecer a sua vaidade final; ela anseia por algo mais ("King of My Heart"). Ela pode e, inclusive, ri de si mesma. Ela quer uma gratificação imediata ("Gorgeous"), mas vê o valor em "all of this silence and patience/pining and anticipation" (Dress). Ela entende que essas coisas podem verdadeiramente ser uma expressão de amor e de intimidade como realização. O álbum está cheio de imperfeições, mas também de um profundo amor; está cheio de vida e emoção; e é, muitas vezes,  sublime.

Nota: Optamos por manter os nomes e trechos das músicas em Inglês com o intuito de preservar o jogo de palavras e ambiguidade originais. Qualquer tradução demandaria uma explicação extensa para contextualizar no todo de cada canção, o que seria exaustivo.


The Tablet - Tradução: Ramón Lara/ Revisão: Rondnelly Nunes

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