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Direitos Humanos existem para garantir a dignidade da vida para todas as pessoas.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um ganho imensurável. (Reprodução/ Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Há uma fala bastante significativa num filme francês, O fabuloso destino de Amélie Poulain, que parece descrever bem nosso atual momento histórico: “são tempos difíceis para os que sonham”. Crer num mundo justo, igualitário e com reais possibilidades de dignidade para todas as gentes, tem estado cada vez mais difícil. A esperança se embaça e, por vezes, esvai-se. Já há algum tempo temos acompanhado o ressurgir de uma onda conservadora – que só quer conservar o que há de pior em nossos costumes, crenças e práticas – que tem demonizado os Direitos Humanos. Trata-se de não reconhecer a humanidade do outro, relegando-o a um lugar inferior.
O discurso propagandeado, não sem intenção, é o de que os Direitos Humanos só servem para proteger bandidos. Não, Direitos Humanos existem para garantir a dignidade da vida para todas as pessoas, inclusive para aquelas que agiram contra a lei e contra os próprios Direitos Humanos. “Deus faz nascer o sol sobre bons e maus”, ensina-nos a sabedoria de Jesus (Mt 5,45). A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um ganho imensurável. Mas ainda há muito o que ser feito, para garantir a dignidade da vida para todas as pessoas. Recordar, em 10 de dezembro, essa Declaração, é um gesto de comprometimento com a busca, incansável, de humanização de nosso mundo, sobretudo nesses terríveis tempos nos quais estamos imersos.
Propondo uma leitura bastante atual e crítica de nossa realidade atual, Robson Sávio Reis Souza, no artigo Direitos Humanos e discursos de ódio, reflete sobre a criminazalização de todas as diferenças, bem como a instauração do medo e da desesperança na sociedade, como instrumentos de fortalecimento e irradiação do discurso de ódio, que fere de morte os direitos de todas as pessoas. Nesse triste cenário, também as religiões acabam por contribuir para a disseminação desse estado sombrio, ajudando a criar tanto os heróis quanto os bodes expiatórios, que saciam as ganas daqueles que cedem ao ódio.
As religiões, contudo, têm um papel importante na salvaguarda e na promoção dos Direitos Humanos. É o que nos ajuda a refletir o artigo de Alex Kiefer da Silva: Direitos Humanos e questões religiosas na atualidade. As religiões são convidadas a formar as consciências cidadãs, mediando e defendendo os Direitos Humanos, que são direitos de todos e para todos, como garantia da dignidade da vida. Não ceder ao fundamentalismo é um passo importante, para que as religiões consigam contribuir com esse processo de humanização do mundo humano.
Encerrando nossas reflexões, Élio Gasda propõe uma leitura teológico-cristã dos Direitos Humanos, no artigo: Deus é princípio e fundamento dos Direitos Humanos. Buscar a garantia de uma vida em dignidade para todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, gênero, orientação sexual e crença é dever ético de todos e todas, sobretudo dos cristãos e cristãs por força de sua própria fé. Essa é uma premissa básica para todas as pessoas que se colocam no caminho da humanização, tal como nos ensina, com a própria vida, Jesus: reconhecer a humanidade – em sua dignidade intrínseca e inviolável – do outro. Garantir a dignidade de todas as pessoas é reconhecer, nelas, o sonho de Deus, que as criou para a vida e para a sua realização pessoal e coletiva.
Boa leitura!
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