sábado, 6 de janeiro de 2018

Debate sobre aborto não passa de propaganda em defesa da prática, alerta filósofo

Por Natalia Zimbrão
Ultrassonografia / Flickr de Maddalena (CC-BY-NC-SA-2.0)

REDAÇÃO CENTRAL, 06 Jan. 18 / 06:00 am (ACI).- O atual “debate” em torno do aborto na sociedade é, na verdade, “uma propaganda em defesa dessa prática”. É o que demonstra o livro ‘Contra o Aborto’, lançado pelo professor de Filosofia Francisco Razzo, o qual aponta como se dá essa lamentável realidade.

Segundo o autor, esta obra tem o objetivo de “perguntar se as razões oferecidas pelos defensores do aborto são realmente boas razões, ou seja, se elas se sustentam à luz da análise filosófica”.

“Não analisa pessoas, analisa ideias. Como o tema do aborto evolve muito sentimento, muita paixão, muita polêmica e, por isso, muito ruído, foi preciso separar o joio do trigo”, indicou.

No livro, Razzo apresenta em um dos capítulos as “Imposturas intelectuais e políticas: a propaganda pró-aborto”. Conforme assinalou em entrevista à ACI Digital, “há uma complexa rede formada por entidades nacionais e internacionais, governamentais, intergovernamentais e não-governamentais que atua na defesa do aborto há pelo menos meio século”.

O autor explicou que o termo “debate” significa “confronto franco e paciente de ideias conduzido por regras claras de argumentação”. Porém, “no contexto retórico de uma sociedade relativista, passa a significar nada mais nada menos do que ‘necessidade de divulgar com extrema urgência uma agenda’. Não há debate, o que promovem é puro proselitismo”.

Assim, recordou que “o momento histórico decisivo para essa mudança semântica deve ser rastreado pelo menos até o caso Roe vs. Wade, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos, em 1973, julgou procedente que a mulher tem o direito de interromper a gravidez”.  

“No tema do aborto, a proteção do direito à vida do nascituro foi desacreditada pelos ideais de liberdade sexual e direito reprodutivo das mulheres. Criou-se, assim, a falsa dicotomia entre dois direitos: vida e liberdade. Como se o direito à vida do embrião violasse o sacrossanto direito à liberdade sexual da mulher”, pontuou.

Razzo lembrou que “meia década antes do julgamento, o ocidente era agitado pelas revoluções culturais de 1968”. Assim, este caso “precisa ser visto como um divisor de águas e compreendido na perspectiva filosófica correta: o sintoma da degradação moral que a década de 60 representa”.

“A liberação do aborto não é a causa, mas um dos efeitos das grandes crises espirituais geradas pelo século XX”, acrescentou.

Entretanto, o autor pontuou que também em 1968 foi publicado “um dos mais importantes documentos da Igreja Católica sobre natalidade”, Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, no qual o Pontífice ressaltou “o gravíssimo dever de transmitir a vida humana”.

“A ideia de direitos reprodutivos das mulheres subverte essa gravidade ao criar a falsa impressão de que a vida humana não passa de uma banalidade”, assinalou.

Ao lançar o olhar sobre a realidade brasileira, Razzo destacou que “do ponto de vista retórico, as entidades envolvidas com a legalização do aborto no Brasil não passam de cópias de algumas entidades internacionais”, indicando como “as mais famosas e atuantes” a “Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, Católicas Pelo Direito de Decidir e o GEA - Grupo de Estudos sobre o Aborto”.

“De alguma forma – observou –, todas essas entidades estão ligadas à pressão que o Supremo Tribunal Federal tem sofrido – e em alguns casos até cedido (ADPF 54 que julgou o aborto para caso de anencefalia) – para liberar o aborto, o que é um absurdo, já que o aborto é tema do Poder Legislativo e não do Judiciário”.

“Como membros da sociedade civil é óbvio que essas pessoas têm todo direito de se organizarem e de defenderem o que acreditam ser o melhor para sociedade. O problema – e é isso que busco avaliar no livro – está na estratégia utilizada: dissimulação, manipulação de dados, mentira e muita retórica”.

E, para fazer frente a esta realidade, o autor explicou que, primeiramente é preciso entendê-la, “pelo menos em dois níveis em que a defesa do aborto ocorre: história das ideias e moral”.

“Não dá para fazer frente ao problema do aborto sem antes mergulhar na história da cultura que legitima moralmente o aborto. Por isso, não se trata de condenar quem vive atualmente o dilema moral do aborto. É preciso, antes, investigar o fundamento das crenças que governam escolhas abortivas”.

Nesse sentido, precisou, “todas outras questões são secundárias, principalmente a ideia tão divulgada quanto batida de que o aborto não passa de um problema de saúde pública. Se o aborto é uma decisão – e não uma doença –, então, antes de ser um problema de saúde pública, deve-se perguntar pelas crenças que justificam essa decisão”.

Assim, em ‘Contra o Aborto’, Razzo afirmou que o leitor encontrará “um livro de filosofia moral”, que “pretende fazer duas perguntas: O que é morto em um aborto? São boas as razões para se legitimar o aborto? E responder filosoficamente a elas, isto é, oferecer bons argumentos para afirmar que uma pessoa morre no aborto e que não há boas razões para defender o direito de uma mulher interromper a gravidez”.

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