terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Qual o maior obstáculo para enfrentar uma cultura de assédio sexual?


A hashtag #metoo tem sido utilizada nas redes sociais para denunciar casos de abuso sexual sofridos por usuários.

 domtotal.com
Com a exposição dos abusos sexuais de pessoas poderosas nos Estados Unidos, a Revista América decidiu entrevistar seus leitores.
A hashtag #metoo tem sido utilizada nas redes sociais para denunciar casos 
de abuso sexual sofridos por usuários. (Mihai Surdu/ Unsplash).

Quando perguntados se tiveram alguma experiência com assédio sexual, 89 por cento dos entrevistados em nossa recente pesquisa responderam que sim, enquanto 76 por cento disseram à América Magazine que viram alguém sofrer assédio. Noventa e sete por cento das mulheres relataram que sofreram assédio sexual.

"O assédio sexual é tão comum em suas diferentes formas que é mais fácil nomear os tempos e os lugares onde não ocorreu", escreveu Ore, uma leitora da cidade de Medford. Quando solicitados a indicar as formas em que experimentaram ou testemunharam assédio, os leitores disseram que frequentemente acontecem no local de trabalho (79 por cento), em lugares públicos (62 por cento) e na escola (45 por cento).

Apesar desses números sóbrios, a maioria dos leitores (77 por cento) disse à América que notaram novos esforços para reagir frente ao assédio sexual na última década. "Eu acho que grandes coisas mudaram nos locais de trabalho após o caso de Anita Hill, famosa por ter acusado seu chefe, candidato à Suprema Corte dos EUA, de sexualmente lhe assediar", escreveu uma leitora de Boston.

Outros leitores observaram esforços produtivos por parte de suas comunidades para acabar com o assédio. "Minha diocese tem um programa que treina todos os voluntários e funcionários na compreensão do abuso e do assédio sexual", escreveu um entrevistado de Austin, Texas. "A responsabilidade pessoal e a responsabilidade pública são prioridades". Uma leitora da cidade de Nova York descreveu a utilidade das comunidades on-line a este respeito, destacando a campanha de mídia social. #MeToo me ajudou e a outras a ganharem voz contra os abusadores", disse ela - #metto, ou “eu também”, é uma hashtag usada nas redes sociais por mulheres e homens que sofreram algum tipo de agressão sexual e teve início após as alegações de estupro contra o poderoso produtor cinematográfico americano Harvey Weinstein.

Os leitores descreveram muitos obstáculos para abordar uma cultura que permite o assédio sexual. Uma entrevistada disse que "culpar a vítima e 'vitimizar' os abusadores é o maior obstáculo para avançar". Ela deu o exemplo daqueles homens que falam sarcasticamente: "É difícil ser homem hoje", negligenciando o fato de que tem sido um momento horrível para se ser mulher há muito tempo. Outra leitora, de Pasadena, Califórnia, apontou que a atenção da sociedade tem sido desproporcionalmente focada em casos de assédio de alto perfil (envolvendo pessoas famosas e poderosas). "Enquanto saboreamos a queda de homens poderosos e abusivos", disse ela, "recusamos reconhecer as maneiras pelas quais já somos cúmplices nessa cultura".

Uma entrevistada de Pottsville, Pasadena, sugeriu que colocar as mulheres em posições de liderança poderia ajudar: "Os homens tendem a encobrir e proteger outros homens mesmo quando são culpados... [Eles podem estar mais] preocupados com a dignidade do abusador do que com a vítima. (Nós vimos isso com nossa própria crise clerical de abuso sexual na Igreja Católica). Mais mulheres precisam estar em posições de liderança e poder, porque quando não estamos ocupando estes lugares, somos mais propensas a sermos alvos de abusos e vítimas".


America Magazine - Tradução: Ramón Lara

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