sexta-feira, 9 de março de 2018

Dia da Mulher: As noites da vida de quem tem medo


Isabel Santos
Lisboa, 08 mar 2018 (Ecclesia) – No Algarve, existe desde 1999 uma casa de abrigo para vítimas de violência doméstica, onde chegam casos de mulheres que conseguiram trazer à tona uma motivação maior para saltar de relações violentas.

“’Quero é começar a trabalhar’, é uma das grandes motivações porque muitas mulheres que aqui chegam estão desempregadas e é isso um dos problemas – o agressor faz questão que a dependência económica seja uma realidade.

Ter uma casa, começar uma vida de novo e salvar os filhos são também motivações”, conta à Agência ECCLESIA Isabel Santos, diretora técnica desta casa.

Com capacidade para acolher 14 mulheres, ali chegam  na sua maioria “vítimas de violência física, económica, psicológica e sexual”, quase sempre com baixo nível de escolaridade.

“As idades das vítimas variam muito, temos mulheres com 20 até aos 60 anos mas chegámos a ter um pedido de uma senhora de quase 80 anos, devido a violência doméstica por parte de um filho”, afirma a diretora técnica.

Isabel Santos explica o funcionamento da casa onde todas cozinham, “tratam da casa e da roupa para que aquelas mulheres consigam gerir depois uma casa” já que se pretende que seja um tempo de aquisição de competências e afastamento de medos.

“Talvez à noite, quando se vão deitar, estas vítimas pensam pelo que passaram, estão a passar e todas as mudanças que acontecem, fazem a retrospetiva da vida e esse deve ser o pior momento do dia.

 Há medos extremos: de aparecer o agressor, de saber onde está… há mulheres que integramos aqui porque os agressores descobriram onde estavam. Elas próprias contam que ‘ele não vai desistir, tem muitos conhecimentos, conhece gente na GNR, na Segurança Social ou no Tribunal”, afirma.

As noites da vida porque passam… O medo e a insegurança são fatores que levam muitas mulheres a se acomodarem em relações violentas onde os agressores vêm de “famílias disfuncionais e transmitem para o seu agregado familiar a violência, o mau estar e a disfuncionalidade que já tinham nas família deles porque não conheceram outras realidades.

Muitas são situações de álcool”, conta a responsável.

 “Saiu de casa pelos filhos porque por ela tinha aguentado mas deparou-se com a situação de sair da casa abrigo e tinha medo. Era sozinha com quatro filhos. Aqui a integração é muito complicada, não há suporte familiar, falamos de duas crianças muito pequenas e uma senhora muito perdida. Situações como esta tocam-nos muito mais…”

Isabel Santos

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