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O mundo humano não está destinado à fatalidade e tanto a arte quanto a religião nos ajudam a dar conta disso.
Fazemos arte porque sabemos que a vida pode ser bem mais. E o cinema, nesse lugar,
é fundamental. (Gary Hershorn/ Reuters)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Precisamos da arte, para agregar mais significado à vida! Sem a arte, cairíamos mais facilmente no desespero e no desconsolo. Fazemos arte porque sabemos que a vida pode ser bem mais. E o cinema, nesse lugar, é fundamental. Há quem pense que a arte, e por isso o cinema, seja puro entretenimento. É mais que isso. Bem mais! Recriamos o nosso próprio mundo e manifestamos, como expressão artística, um novo mundo possível. E, aqui – não só! –, há uma aproximação dialogal legítima entre a arte e o religioso: o mundo humano não está destinado à fatalidade e tanto a arte quanto a religião nos ajudam a dar conta disso. Ambas se tornam servas da esperança e da produção do sentido e, logo, abrem-nos um caminho para que sejamos mais humanos. Isso é espiritualidade!
Neste domingo teremos a oportunidade de acompanhar a cerimônia de premiação do Oscar 2018. Muitos podem considerar tal ocasião uma banalidade, mas essa é, sem dúvidas, uma bela oportunidade para pensarmos sobre o lugar que a arte ocupa em nossa vida. Muito interessantes e pertinentes são as discussões em torno dos indicados à premiação. Igualmente valiosas são as repercussões das manifestações dos artistas, legitimando várias causas que chamam a todas e todas à reflexão e ao engajamento. Trazendo, pois, essa ocasião e, sobretudo os filmes indicados, como tema de nossa matéria especial, queremos refletir sobre como a arte cinematográfica, ricamente representada pelos títulos que aqui trataremos contribuem para um processo espiritual, no qual somos chamados a agregar mais sentido à nossa experiência de sermos humanos.
Abrindo a conversa, temos o artigo Oscar 2018: um chamado às fronteiras, de Pedro Lima Junior, trazendo luz, hermeneuticamente, a respeito de um fio que perpassa todos os títulos concorrentes à categoria de Melhor Filme, na premiação. Partindo da categoria da fronteira, o autor aponta que esse é um lugar a respeito do qual não devemos fugir: são nas situações fronteiriças onde precisamos nos colocar para que, ali estando, não para criar mais barreiras, contribuir para que tais fronteiras deixem de existir. No contexto social que enfrentamos, no qual estamos afligidos por tantas polarizações, ocupar as fronteiras como lugares possíveis de diálogo e de superação dos conflitos é atitude humanamente necessária.
Simone Ramos é a autora do segundo artigo de nossa matéria: No cinema, na vida, na relação com Deus, as mulheres precisam falar de si, no qual aborda temática sobre o lugar de protagonismo e assunção de si, tão necessário para as mulheres e tão urgente para a humanidade. A partir de três dos filmes indicados, a autora reflete a respeito da importância de as mulheres dizerem de si mesmas, como lugares existenciais legítimos, para a construção da própria identidade e da assunção de seu lugar no mundo, na vida, na religião e na relação com Deus. No texto, percebemos como a arte cinematográfica toca em questões e situações existenciais que nos trazem um olhar profundo sobre a vida e sobre o nosso próprio lugar, como convite a apropriação de valores tão caros ao nosso processo de humanização.
Focando no filme Lady Bird – Hora de voar, Matheus Pichonelli faz uma leitura do processo humano do desenvolvimento do ser e do se assumir pessoa, no artigo Sacramento e hedonismo, no qual aponta para a questão iminentemente religiosa e, mais que isso, espiritual, que desponta no filme. O texto chama a atenção para algo que o filme acena, que se trata de uma realidade propriamente humana, no processo de descoberta e afirmação de si, que joga com os binômios continuidade-descontinuidade, ligação-ruptura, tão importantes para nosso desenvolvimento pessoal e relacional.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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