sexta-feira, 1 de junho de 2018

Responsabilidade ecológica: o ser humano como guardião da criação

 domtotal.com
O cuidado para com a Casa Comum é cuidado para com a vida.
O resgate da consciência de que o mundo é uma casa (eco = óikos) é caminho educativo fundamental
O resgate da consciência de que o mundo é uma casa (eco = óikos) é caminho educativo fundamental
 (Reprodução/ Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*

Na próxima semana, o calendário trará uma data muito importante para a reflexão: trata-se do dia 05 de junho, quando se comemora o Dia da Ecologia e o Dia Mundial do Meio Ambiente. A insistência no tema revela a sua urgência: não é uma questão que se pode deixar para depois, pois diz respeito à nossa própria existência compartilhada no e com o mundo. Em última instância, trata-se de uma questão ética: o cuidado para com a Casa Comum é cuidado para com a vida. A responsabilidade ecológica não se manifesta apenas com grandes feitos, mas é no dia a dia que, eficazmente, vamos transformando nossa relação com o mundo. A mudança de hábitos é urgente e necessária. É preciso viver com sentido e, aqui, reside a sabedoria.

As religiões têm um papel importante na educação ética para com o cuidado com o mundo e com toda a vida que insiste em se manter nele. O resgate da consciência de que o mundo é uma casa (eco = óikos) é caminho educativo fundamental: essa casa precisa de cuidados e, para que todos os habitantes vivam bem, é preciso zelo cuidadoso para com a dádiva que todos recebemos. O cristianismo, religião ainda majoritária, tem grande responsabilidade evangelizadora, não apenas na conquista de mais adeptos para suas fileiras, mas na educação de uma fé responsável, que inspire a cidadania e a boa relação com a criação. Teologicamente, dedicamo-nos, nos três artigos que seguem, a refletir sobre aspectos importantes que nos ajudam a tomarmos consciência de nosso papel frente ao mundo criado.

No primeiro artigo, Sobre a face das águas: o Espírito Santo na criação, Aíla de Andrade, nj, orienta nosso olhar sobre a ação de Deus, por meio de seu próprio Espírito, segundo a tradição bíblica, no que diz respeito à criação. Nos relatos da criação, a ação criadora de Deus, em seu Espírito, é aquela de ordenar o que estava imerso no caos. Esse caos sobre o qual o Espírito pairava não é um limite para a ação de Deus, mas sinal do poder ilimitado do Senhor. O Espírito Santo é doador de vida e é por sua força que a vida se mantém, mesmo quando inspira ações e palavras proféticas que rompem com toda forma de injustiça que ameaça a vida.

Jaldemir Vitório, sj, no artigo O ser humano e a criação: uma relação de cuidado!, reflete a respeito do papel humano frente a criação. Resgatando uma leitura responsável do texto bíblico, o autor rompe com a falsa ideia de que a tradição judaico-cristã deu aporte para a ação predatória do ser humano no mundo, segundo a inspiração bíblica. Se voltarmos o olhar para o texto bíblico, perceberemos, tal como nos aponta o artigo, que a interpelação é para o cuidado, pois o ser humano participa da ação criadora de Deus. Esse cuidado nasce de dentro mesmo da pessoa, quando busca viver de modo mais íntegro, alcançando relação com os outros e com o mundo mais saudáveis: para isso aponta a sabedoria bíblica.

 Resgatando a importante Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, Élio Gasda, sj, propõe-nos o artigo: Laudato Si: “Para que protejamos o mundo e não o depredemos”.  No texto, o autor faz uma análise da realidade atual, no que diz respeito a relação humana com o mundo, mostrando a necessária relação ecológica com a questão social. A partir disso, joga luz sobre essa realidade, a partir da Encíclica papal, apontando a urgência de uma consciência para o cuidado, que deve perpassar toda a ação evangelizadora da Igreja.

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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