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Para o papa, sínodo dos bispos é momento propício para enfrentar os problemas reais que incomodam a sociedade e a juventude.
Até o dia 28 de outubro, no Vaticano, acontece o sínodo dos bispos para os jovens. (Vatican Media)
Por Mirticeli Dias de Medeiros*
O Papa Francisco abre o sínodo para os jovens debaixo de críticas. Após os escândalos de pedofilia que vieram à tona nos últimos meses, um bispo norte-americano chegou a solicitar, em agosto, que esse encontro dos bispos fosse cancelado. “Os bispos estão sem nenhuma credibilidade para discutir sobre esse tema”, disse Charles Chaput, arcebispo de Philadelfia e membro do conselho de planejamento do sínodo. Após a declaração, acompanhada de objeções ao documento de trabalho de Sínodo (Instrumentum Laboris), Chaput foi criticado pelo secretário-geral do Sínodo, Lorenzo Baldisseri, em coletiva de imprensa organizada pelo Vaticano esta semana: “Ele estava presente no momento em que este texto foi publicado [...] Se ele tivesse críticas, ele poderia tê-las apresentado; nós as teríamos inserido”, rebateu o secretário.
Na abertura dos trabalhos do sínodo, logo após a missa de abertura, o pontífice pediu que os participantes não tenham medo de expor “críticas honestas e transparentes”. Além disso, Francisco tocou o tema do clericalismo mais uma vez, o qual definiu “perversão e raiz de tantos males na igreja”. Em clara referência às denúncias de abusos sexuais envolvendo membros do clero, Bergoglio reiterou que “se deve pedir humildemente perdão e criar condições para que não se repitam”.
O sínodo dos bispos para os jovens tem tudo para se tornar um dos marcos do atual pontificado. O motivo não seria somente o enfrentamento da atual crise, mas a sucessão de eventos que fazem dele um dos encontros mais importantes promovidos por Papa Francisco.
No próximo dia 14 de outubro, o idealizador e fundador do sínodo dos bispos, Giovanni Battista Montini (Papa Paulo VI), será canonizado. A história da igreja já comprovou o quanto a canonização de um papa representa não somente o reforço da devoção em torno da figura de um determinado pontífice, mas o respaldo de todo seu legado; o sucessor de Pedro que recebe a glória dos altares, também é glorificado na sua forma de governar. E Francisco se alinha com muitas das escolhas políticas e diplomáticas de Montini. Uma delas foi a maneira como Paulo VI conduziu o diálogo entre a Santa Sé e os países do bloco comunista nos anos 70, cujo primeiro impulso acontecera através da política de aproximação coordenada pelo cardeal Agostino Casaroli durante o pontificado de João XXIII.
A reunião de bispos se realiza em um momento no qual a cristandade se depara com algo que, até um tempo atrás, não tinha previsão para acontecer: a preparação para o estabelecimento das relações diplomáticas entre Santa Sé e a República Popular da China. A participação inédita de dois bispos da China Continental são o indicativo que Francisco levou a sério a vivência da colegialidade episcopal em todas as instâncias e a todo custo.
O que seria "apenas" um sínodo para os jovens - os quais já demonstraram na fase preparatória da assembleia que gostariam de entender melhor a doutrina moral da Igreja -, transformou-se em palco de uma série de acontecimentos que poderão mudar os rumos do atual pontificado. Os questionamentos dos jovens diante dos escândalos, dos ensinamentos da Igreja e da forma como o catolicismo contribui com a juventude forçarão a instituição a responder a uma questão que vai além do próprio tema do sínodo: como as escolhas da Igreja Católica se tornarão referência para a sociedade e para as gerações futuras?
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.
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