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O Brasil passa por um furacão de destruição ideológica sem precedentes. A fé pode ser fator a iluminar e mobilizar contra o ataque ao povo.

Vimos que setores da religião, confessada como cristã, atuaram com bastante influência para a eleição do atual desgoverno. (Apu Gomes/AFP)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Quando é que iremos reagir? O Brasil se tornou terra arrasada. Não é possível que aceitemos, calados e no máximo boquiabertos, que a desgraça continue a ser infligida sobre nós, sobretudo sobre os mais vulneráveis e historicamente injustiçados e oprimidos. Em cem dias de desgoverno, um sem número de desconstruções e destruições já se deram, nos mais variados cantos, enquanto a mídia se ocupa de intrigas palacianas. Enquanto os contrários a esse desgoverno se deliciam com o prazer masoquista de estarem certos sobre um “eu avisei”, cada vez que um dos filhos do presidente da república (sim, em minúsculas!) entra num imbróglio via Twitter, ou quando o Bolsonaro-pai manifesta não saber sequer ler, o Brasil passa por um furacão de destruição ideológica sem precedentes.
Estamos, sem sombra alguma de dúvidas, na era da estupidez! O louvor à estupidez chegou a uma dimensão absurda. E não fazemos nada, aceitamos passivos como se fosse uma questão de destino ao qual estivéssemos fadados. Populistas, os que ascenderam ao poder central governam por redes sociais, espalhando mentiras, incitando a violência contra opositores, ofendendo pessoas, anunciando decisões de destruição. O humor é e sempre será uma arma contra o autoritarismo e a estupidez, mas a oposição a este desgoverno não pode se contentar com uma militância a base de memes, ironia e deboche.
É preciso mobilização popular. Alcançar as bases para uma educação política e para uma urgente sensibilização para o social e o cuidado para com o coletivo. Não podemos só criticar as decisões do desgoverno, sem que estrategicamente atuemos para encontrar saídas e alternativas contra o abuso e o autoritarismo. Mas, antes, é preciso suscitar o interesse pela coisa pública, na intenção do bem comum. O sujeito precisa se redescobrir como ser político, que se fortalece na coletividade e não cedendo ao individualismo que nos isola em ilhas. Pensar coletivamente, interessados no verdadeiro bem comum, para não cair nas armadilhas que tornam as pessoas como massas de manobra, tal como vimos com bastante terror desde a revolta da classe média e da elite com a derrota de Aécio Neves no pleito eleitoral, em 2014.
Vimos que setores da religião, confessada como cristã, atuaram com bastante influência para a eleição do atual desgoverno. Um jogo de interesses dissimulado em bem do país e num pretenso querer divino manipulou um sem número de fiéis, atentos às orientações de seus líderes religiosos, em quem têm confiança, para que aderissem ao disparate que era a candidatura de Jair Bolsonaro. Pessoas mal pastoreadas que acabaram por escolher uma liderança política que atua contra elas próprias, basta ver o que se propõe com a chamada Reforma da Previdência que, caso aprovada do modo como está proposta, levará milhões de pessoas a situações de pobreza desumana, para além daquela com a qual já convivemos historicamente em nosso país desigual.
Jesus havia alertado seus discípulos acerca dos falsos profetas. São anunciadores do antirreino. Abusam dos lugares institucionais que ocupam, para alienar a fé das pessoas. Enriquecem a si próprios com o dinheiro da exploração daqueles e daquelas que já têm pouco, prometendo uma prosperidade ilusória. Os bons pastores, aqueles e aquelas que sabem cuidar bem do rebanho, precisam assumir a liderança, no trabalho para a conscientização que nasce da fé, à luz do Evangelho de Jesus, expondo as seduções dos falsos profetas. Movimentos ecumênicos e inter-religiosos precisam se fortalecer, em vista da transformação social, compromisso com o bem comum ao qual toda religião fiel aos seus princípios aspira. São tempos de unir as mãos, fazendo frente aos retrocessos humanos aos quais estamos enfrentando. Nesta terra arrasada, plantemos um jardim.
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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