segunda-feira, 6 de maio de 2019

Francisco, Francisco...


O combate que se faz ao papa revela fissuras na Igreja, demandando que fieis e clero saiam em sua defesa.


Há coisas muito sérias com as quais Francisco precisa lidar, como a pedofilia, reforma da Cúria e os posicionamentos frente a políticas globais que contrariam a lógica do Reino.
Há coisas muito sérias com as quais Francisco precisa lidar, como a pedofilia, reforma da Cúria e os posicionamentos frente a políticas globais que contrariam a lógica do Reino. (AFP)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Segurar o leme da Barca de Pedro não deve ser das coisas mais felizes da vida de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. O que, para muitos, parece ser uma honra, tornar-se papa, na realidade de quem busca se conduzir pelo Evangelho tem transparecido ser uma pesada cruz. Essa cruz, Bergoglio precisa carregar com alegria, já que fez dela a inspiração de seu pontificado. Provavelmente é por isso que ainda não tenha adoecido, ao ter que lidar com tantas mazelas desta Igreja que deveria mais soar como sacramento do Reino de Deus.
Bergoglio sabia do que lhe esperava, na ocasião de sua eleição. Ter pedido para que os fiéis, seus pastoreados, rezassem por ele em sua primeira aparição pública como papa é mais que um gesto de humildade. Para quem acredita na força da oração, o pedido de Francisco não deve ser esquecido: é preciso mesmo que o poder do Espírito o conduza, com sabedoria, na direção da Igreja. O que o papa João Paulo II fez transparecer que eram só flores, na verdade se trata de um emaranhado de espinhos, como temos visto desde o final do pontificado de Bento XVI.
Há coisas muito sérias com as quais Francisco precisa lidar: a primeira delas, sem dúvidas, é a chaga aberta dos casos de pedofilia por parte de membros do clero. Essa é uma realidade inaceitável para qualquer instituição, sobretudo para aquela que se julga Igreja de Jesus Cristo. A reforma da Cúria, tão urgente e necessária, para lidar de modo mais evangélico com as estruturas pululadas de pessoas aguerridas ao poder. Francisco tem sido a única liderança, em nível mundial: sua responsabilidade em jogar um pouco de luz sobre a realidade global é indiscutível.
Enquanto tenta lidar com seriedade com esses apelos de seu pontificado, sofre ataques, dentro e fora da Igreja. Nada curioso que os ataques que sofre desde dentro, sejam por querer tornar a Igreja mais evangélica. É como se os opositores do que há de mais pastoralmente evangélico nessa Igreja manifestassem que Jesus é uma pessoa não bem-vinda nessa instituição. Já havíamos escrito, há dois anos, a respeito do isolamento de Francisco, em seu ministério. O que fazem de tão importante as Conferências Episcopais, que não se pronunciam claramente, na defesa de Francisco e de sua missão? Por que permanecem silenciados os cardeais que elegeram Francisco como Bispo de Roma? Definitivamente, estes não são tempos para a pretensa sensatez da omissão: é preciso tomar partido.
O maior apoio que Francisco pode receber está no fato de que se comece a colocar em prática as inspirações programáticas orientadas desde o início do Pontificado. É preciso espalhar pela Igreja, em todos os cantos onde se encontra, a alegria do Evangelho de Jesus, mesmo que aqueles que cederam às tentações de Satanás estejam ocupando cargos de poder nessa Igreja. Além disso, é preciso declarar apoio explícito ao papado, organizar mobilizações pastorais que deixem claro que Igreja precisamos ser, à luz do único Evangelho de Jesus Cristo. Já não dá mais para vivermos a tola ilusão – ou, pior, a desfaçatez – de que vivemos numa Igreja sem divisão interna: ela está fragmentada, quebrada.
O apelo de séculos atrás continua ecoando: Francisco, Francisco, vai e reconstrói a Igreja! Sejamos, pois, nós também Franciscos!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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