sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Igreja entra na luta contra a escravidão


Mobilizar 'a enorme presença' da Igreja Católica global para combater a escravidão, é a missão da International Justice Mission


Emmanuel Kofi, de 11 anos (E), e um de seus amigos lavando minério em uma mina de ouro em Brong-Ahafo, Gana, em 15 de setembro de 2016. Emmanuel trabalha na mina há três anos.
Emmanuel Kofi, de 11 anos (E), e um de seus amigos lavando minério em uma mina de ouro em Brong-Ahafo, Gana, em 15 de setembro de 2016. Emmanuel trabalha na mina há três anos. (Kristin Palitza/DPA/PA Images)
Por Rose Gamble

Nos últimos anos, a maior organização anti-escravidão do mundo, a Missão Internacional de Justiça (International Justice Mission - IJM), tem visto seu modelo de parceria com as polícias locais e governos reparar sistemas de justiça quebrados e levar a enormes reduções da escravidão e abuso violento de pessoas na pobreza ao redor do mundo.
Rose Gamble falou com Gary Haugen1, fundador do IJM2.
Em alguns dos lugares onde a IJM tem parceria com a polícia e os governos locais, a escravidão caiu um 86%. Você pode explicar por que esse modelo é tão eficaz?
A escravidão é impulsionada pelo incentivo econômico de criminosos. Se você não tem um criminoso, não tem escravidão. Nos lugares em que aplicamos com sucesso a lei, apoiando as ações da polícia local e, em seguida, as ações dos tribunais locais e legisladores de realmente condenar o perpetrador, juntamente com o apoio aos sobreviventes, vimos a escravidão efetivamente entrar em colapso.
A Igreja Católica também tem usado esse modelo em seu grupo Santa Marta – uma aliança global entre a Igreja Católica e as forças de segurança que trabalham para erradicar a escravidão. Você acha que o grupo tem sido bem-sucedido?
A afirmação do Vaticano sobre a importância da aplicação da lei tem sido extremamente útil. Tirou as vítimas da escravidão humana das sombras. O grupo Santa Marta tem sido particularmente útil na formação de conexões internacionais e no compartilhamento de melhores práticas internacionais. Para combater a escravidão, as autoridades devem cooperar além das fronteiras.
Acho que o próximo passo é treinar a aplicação da lei no mundo em desenvolvimento. Eles precisam do treinamento e dos recursos para combater efetivamente a escravidão. Precisamos de um aumento do investimento em treinamento e infraestrutura para ter a capacidade de levar isso para grande escala.
Como, de maneira prática, podemos ajudar a combater a escravidão usando esse modelo em nível nacional e da Igreja?
1. Mobilizando a enorme presença da Igreja Católica globalmente. Acredito que requer uma compaixão cristã para reconhecer aqueles – os pobres, os marginalizados, os menores – que serão afetados pelos traficantes. A Igreja Católica tem uma história profunda de ajudar os vulneráveis e os marginalizados. Eu acredito que não deveria haver ninguém nos bancos que não soubessem que a escravidão é um problema que fere o coração de Deus e precisa de atenção.
2. Como Igreja, como cristãos, precisamos levantar nossa voz para as autoridades civis. As autoridades recebem poder com a finalidade de proteger os pobres contra os abusos. Devemos estar afirmando o mandato divino de aplicação da lei, fornecendo recursos para esse papel.
3. A Igreja deve comprometer-se a apoiar os sobreviventes. A crença de que as pessoas podem ter uma vida fora da escravidão, foi parte do que inspirou as forças da lei. Pode haver uma crença de que os sobreviventes estão tão quebrados, que não tem mais futuro. A polícia precisa ver as pessoas não apenas como sobreviverem à escravidão, mas como seres humanos que querem prosperar em liberdade.
4. A Igreja precisa apoiar e colaborar com os esforços práticos das organizações que apoiam os sobreviventes e mobilizam as forças de segurança.
E o que podemos fazer em nível individual?
Uma coisa que você pode fazer é tornar-se parceiro da liberdade com o IJM – que conecta pessoas de fé e as capacita com várias ferramentas para aumentar a conscientização e a defesa de direitos. Você também pode incentivar sua igreja a participar do Domingo da Liberdade. Em 22 de setembro, as igrejas de todo o mundo se unirão para aprender sobre a escravidão moderna e se engajar na luta contra ela – por meio da oração, da conscientização e da contribuição financeira para a causa.
Por que – se assim for – temos o dever cristão de trabalhar para combater o tráfico e a escravidão humana?
O mandamento básico de Jesus é amar o próximo. A escravidão pode ser percebida longe de nós, de nossas famílias, de nossos filhos, mas, se ouvirmos as histórias da vida real de escravos, se nos concentrarmos no indivíduo, acredito que devemos reconhecer o mandamento de Cristo de amá-los como a nós mesmos.
Também a maneira como vemos a bondade de Deus é através das boas obras de seu povo. Ao combatermos a escravidão, encontramos com um Deus que odeia a injustiça e ama a justiça.

- Gary Haugen está atualmente no Reino Unido convocando uma sessão de discussão sobre como lidar com a escravidão no canal TED e falando na Convenção Cristã de Keswick. Ele já falou no Fórum Econômico Mundial sobre o fim da escravidão nas cadeias de suprimentos, além de participar de eventos anti-escravidão no Vaticano.
- O IJM é uma instituição de caridade cristã que trabalha com todas as denominações, bem como com pessoas de todas as religiões ou de nenhuma profissão de fé, para acabar com a escravidão e o abuso violento de pessoas em situação de pobreza. A IJM tem trabalhado com as forças de segurança em todo o mundo para resgatar quase 50.000 pessoas da escravidão e do abuso violento até hoje. Também ajudou a garantir a prisão de milhares de traficantes.
Publicado originalmente por The Tablet.

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