segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Expo 2020, uma feira do outro mundo

US 100 bilhões e 25 milhões de turistas entrarão em Dubai durante a Expo 2020.



A Expo 2020 será a primeira feira em um país de maioria islâmica. (Foto: Luiz Sérgio de Toledo)
Por Luiz Sérgio Toledo*

Como previsto na semana passada, os países membros da BIE (Bureau Internacional des Expositons) votaram no dia 27 último que será Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, quem vai sediar a Expo 2020. Os países finalistas eram o Brasil, Rússia, Turquia e os Emirados Árabes Unidos. A Tailândia tinha desistido em 11 de junho de 2013. São Paulo foi eliminado na primeira rodada. Izmir foi eliminado na segunda rodada. A competição final foi entre Dubai e a Rússia. Dubai ganhou com 70% dos votos. Foram 116 para Dubai e 47 para a Rússia. A vitória de Dubai traz para o Oriente Médio sua primeira feira mundial. Também será a primeira do mundo realizada em um país de maioria islâmica. Dubai fez festa a noite toda, com fogos de artifício acendendo o prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa, e um buzinaço pelas ruas de Jumeirah, o bairro da praia mais famosa da cidade.

Mas o que significa sediar uma feira mundial? Para Dubai, a EXPO 2020 significa a entrada de 100 bilhões de dólares no país. Haverá um boom econômico e turístico. O governo gastará cerca de 7 bilhões de dólares construindo a infraestrutura do evento, numa área de 438 hectares ao sul da cidade. Este gasto corresponde a cerca de meio porcento do PIB entre 2016 e 2019 de acordo com o Bank of America Merrill Lynch.

A Dubai Expo 2020 será uma exposição comercial e industrial com duração de seis meses, com produtos de todo o mundo. Será uma vitrine para o país poder mostrar a sua grandeza ao mundo.  Haverá mais investimentos, mais turismo, e o setor hoteleiro e imobiliário crescerão como nunca nos próximos anos. Haverá 277.000 novos empregos, ou seja, 20% a mais do que hoje. No ano passado Dubai foi visitado por 10 milhões de turistas. A cidade campeã foi Londres com 16 milhões. Com a EXPO 2020 Dubai espera atrair 25 milhões de turistas. 

Cavalos

Começou agora em Dubai a temporada de turfe. Árabe gosta de cavalo. Tem paixão por cavalo. E como não poderia deixar de ser, o Sheikh Mohamed Al Maktoum é proprietário do Haras Godolphin, que tem cavalos correndo nos melhores Grandes Prêmios do mundo. Este ano, seus 367 cavalos já participaram de 1.180 corridas e ganharam 226, papando um total de 20 milhões e meio de dólares em prêmios até agora.

Mas ter cavalos de corrida, como se sabe, é um hobby e hobby caro. Não há prêmio no mundo que compense o que se gasta para preparar um cavalo. Dubai contruiu um novo hipódromo em 2010. O Meydan Racecourse é uma instalação visionária que define os padrões de luxo e coloca as corridas de cavalos de Dubai a nível internacional. 

O complexo tem um hotel 5 estrelas com 285 suites com vista direta das pistas, e tudo é de primeira classe. A arquibancada da Meydan Racecourse é diferente de qualquer outra no mundo, abrangendo 1,5 km. A instalação espetacular está situada sob um telhado em forma de crescente , envolta em painéis solares, com capacidade para 60.000 espectadores e estacionamento coberto para 8.600 carros. O hipódromo tem uma pista de 1.750m de areia e uma pista de 2.400 m de grama.


Quando fui convidado para assistir ao Grande Prêmio em um camarote, fui contaminado pelo frenesi que envolve a cidade e resolvi ir verificar. O champanhe corre solto nos camarotes, as mulheres todas de chapéu e os homens de morning suit ou a roupa local, o dishdash. Fui até o cânter, escolhi meu cavalo pela farda (silk) mais espalhafatosa e procurei a casa de apostas para fazer a minha fezinha. Procurei, procurei e não achei. 

A corrida ia começar quando voltei ao camarote e perguntei ao anfitrião onde é que se podia apostar. Não pode. Não há apostas em Dubai. O jogo é proibido. Quem quer apostar, que o faça pela internet, em Londres. Daí eu pensei, tem que gostar muito de cavalo para ficar horas vendo o bicho correr e nem sequer levar uma graninha prá casa. E essa história de que não há jogo é mais ou menos como no Brasil. Há rifas milionárias já no aeroporto. Como no Brasil. Não há jogo, mas há loteria.

Meydan tem o seu momento mais alto no último sábado de março quando ocorre a Copa do Mundo de Dubai. Sheikh Mohammed põe para correr seus melhores cavalos e tem levado prêmios quase todos os anos. O mais cobiçado é o último páreo, o Grande Prêmio, com uma bolsa de 10 milhões de dólares ao vencedor. 

Em 2010 um cavalo brasileiro, Glória de Campeão, de Stefan e Dalva Friborg, ele sueco, ela brasileira, ganhou o título da primeira corrida no novo hipódromo. Depois da corrida, Glória de Campeão foi aposentado e passou apenas a reproduzir. Isto me lembrou a histária do Churchill, que adorava e criava cavalos de corrida e que antes de uma corrida conversou com seu cavalo, explicando que, se ganhasse essa última corrida, seria posto para pastar e reproduzir e que havia várias éguas a sua espera. Quando o cavalo perdeu, Churchill percebeu o erro que havia cometido e explicou que o cavalo perdeu "because his mind was not into it" ("sua cabeça não estava na corrida"). 

Arte 

Abu Dhabi quer ser Dubai. A capital, que fica 140 km au sul resolveu há alguns anos tomar um banho de cultura. Como a capital tem petróleo e muita grana, saiu à caça de idéias. Nada melhor do que importar idéias consagradas em outros países. Se na França o Louvre dá certo, vamos fazer um Louvre. Se nos Estados Unidos tem o Guggenheim, vamos fazer outro aqui. Pega-se uma das ilhas, a cidade é cheia de ilhas, e chama-se os melhores arquitetos do mundo para trabalhar.


Para o novo Louvre, chama-se Jean Nouvel, para cobrir uma área de 24,000 m2 com uma espécie de calota de fusca perfurada,  que dá a impressão de que o museu flutua no ar. O custo da construção é mais ou menos 108 milhões de euros, mais 525 milhões de dólares pagos para usar o nome Louvre, mais 747 milhões para permutas de obras de arte e exposições especiais. Deve ficar pronto em 2015. 

Para o Guggenheim, chama-se o também premiado Frank Gehry que desenha uma estrutura na qual parece que alguém varreu o chão da serraria e amontoou todos os pedaços de madeira num canto. São 30.000 m2 de área gasta-se 200 milhões de dólares na construção, fora a arte e a licença para usar o nome do museu. Deve ficar pronto em 2017. O complexo tem ainda mais três museus, todos planejados por arquitetos de renome internacional. 

E mais sobre a chuva 

Enquanto os museus não ficam prontos, Abu Dhabi faz uma festa de arte anual em novembro, a Abu Dhabi Art, a exemplo da Art Dubai que ocorre todos os anos em Março, em que galerias de arte de todo mundo trazem seus quadros mais caros para tentar vender aos ricos árabes. É uma boa oportunidade para se ver Picassos, Warhols e Renoirs originais de perto. Traz-se de Shangai a estrutura construida por Foster and Partners para a a exposição dos Emirados na EXPO Shangai de 2010 e constroi-se rapidamente um museu, Manarat Al Saadiyat. Mas, como acharam que a estrutura original não tinha altura suficiente, modificou-se um pouco o desenho original. 

O novo museu temporário ficou pronto no ano passado e é muto interessante, parece um chapéu de samurai. Em 2012, tudo correu bem. Não choveu. A chuva da semana passada não afetou apenas Dubai. Abu Dhabi também foi inundada. A água veio estragar a festa da arte. As galerias tiveram que mudar rapidamente os quadros de lugar porque chovia dentro do museu. Os galeristas ficaram apavorados. Um quadro de Robert Longo de 850 mil dólares ficou molhado. Mas tudo se resolveu rapidamente e em poucas horas a exposição foi reaberta para o público.

No dia 2 de dezembro, o país faz 42 anos. O ritmo alucinante das constuções e do progresso não deverá ser interrompido. Pelo contrário, será acelerado cada vez mais. Quando acontecer a EXPO 2020, daqui a seis anos, tenho certeza que os Emirados estarão mostrando ao mundo um novo tipo de desenvolvimento. A monarquia constitucional funcionando no século XXI.
* Luiz Sérgio Toledo é cirurgião plástico em Dubai, onde mora desde 2005.

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