segunda-feira, 7 de abril de 2014

A segunda vida das igrejas britânicas

Fontehttp://bit.ly/1jR11Vb
No outro lado do Canal da Mancha, o Estado não subvenciona nenhuma restauração do patrimônio. As Igrejas devem, portanto, elas mesmas se encarregar de fazê-lo, tendo que para isso, às vezes, desfazer-se de patrimônio. 

Uma igreja transformada em escola de circo, em salão esportivo ou em supermercado. Impensável? Não na Grã-Bretanha. Entre 1969 e 2011, 1.046 igrejas anglicanas foram transformadas em lugares profanos. Transações que permitiram à Igreja da Inglaterra obter um lucro líquido de 57 milhões de euros, investidos fundamentalmente em duas dioceses.

Na maioria das vezes, as igrejas são transformadas em lugares de moradia, às vezes de luxo. Porque a reconversão é estritamente enquadrada pela Igreja da Inglaterra. Primeiro critério, o respeito pelos valores da Igreja: “Uma igreja não pode abrigar um centro de planejamento familiar, um sex shop ou um cassino. Um restaurante, sim – a menos que se chame Diabo, por exemplo”, explica Jeremy Tipping, responsável pela venda dos imóveis religiosos da Igreja da Inglaterra, à AFP. 

Cada relatório é cuidadosamente estudado e o imóvel só é vendido ao final de um longo processo. Outro critério, o aspecto exterior: “Uma igreja parece sempre uma igreja, independentemente da sua utilização: ela tem um sino, vitrôs”. 

Porque a Igreja anglicana deseja evitar as reconversões “prejudiciais para a sua reputação”, continua Jeremy Tipping. Assim, a igreja São Paulo de Bristol tornou-se um “Circomedia”, uma escola de circo. Em Manchester, a igreja de São Benedito virou um gigantesco salão esportivo dotado de uma grande parede de escalada. 

Outras reconversões são mais polêmicas, como a do bairro londrino de Muswell Hill: uma antiga igreja presbiteriana construída em 1902, cujo exterior permaneceu inteiramente intacto, acolhe agora um pub irlandês (na foto). Em Westbourne, a igreja metodista foi comprada pela cadeia de supermercados Tesco. 

As derrapagens não poupam nem a Igreja católica, onde a reconversão de prédios – menos enquadradas – é de responsabilidade de dioceses e não de um comitê nacional. Em Liverpool, a igreja São Pedro, que conservou as pinturas religiosas, abriga agora um restaurante que organiza noites Halloween. “Para muito católicos, é totalmente ofensivo”, reconhece Sophie Andreae, vice-presidente do Comitê de Patrimônio da Igreja católica da Inglaterra e do País de Gales.
La Vie, 04-04-2014.

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