segunda-feira, 28 de julho de 2014

De onde jorram torrentes de lágrimas

Balanço do dia na Faixa de Gaza: 140 crianças nunca mais vão sorrir.

Por Richard Furst*

Fronteira Gaza-Israel - Em um ponto entre o território palestino e o Estado judeu, que, por segurança, não pode ser revelado, penso com um sufoco no peito: esta é uma das semanas mais tristes no Oriente Médio, nos últimos anos. São os dias mais tristes para mim desde a minha chegada há mais de um ano, ao Cairo, no Egito.

No chamado Estado Islâmico (entre o oeste sírio e o leste iraquiano), mulheres devem se cobrir e as leis são cada vez mais severas aos princípios islâmicos do século 7. As milhares de vítimas e os milhões de refugiados da Síria estão ocultadas com a explosão da ofensiva em Gaza. São crescentes os números de israelenses e palestinos mortos. É a certeza do conflito sem fim

Só uma breve trégua na faixa de Gaza foi suficiente para encontrar cem corpos no meio dos escombros. Porém, antes disso, um outro número chocou o mundo ao mostrar quantas crianças morreram e as mais de mil feridas em Gaza, vítimas dos ataques vindos de Israel. A Faixa de Gaza tem uma das populações mais jovens do planeta, com 48,1% dos habitantes entre 0 e 14 anos.

A reação do Hamas, que controla o território, é lançar mais e mais foguetes. Mães, soldados e amigos estão enterrando israelenses a cada dia.

Qual funeral é mais triste? Assim como a pergunta, a resposta é inapropriada, desnecessária e incompreensível.

A diferença é que no enterro de uma das cinco crianças mortas na faixa de Gaza, estavam outros 17 corpos da mesma família.

Há informações de palestinos em Gaza de que pessoas são convencidas a ser escudos. Caso haja força para ficar e ser vítima, o cerco e o pequeno território impossibilitam a fuga. A faixa (362 km²) é aproximadamente do tamanho do município de Belo Horizonte, 330,95 km², ou um quarto do tamanho do município de São Paulo.

O Hamas desaconselhou os deslocados pelo conflito - mais de 160 mil, segundo a ONU - a se aproximar dos imóveis bombardeados e das regiões de combate pela possível presença de artefatos não ativados.

Pode vir o que for, o acordo de paz que vier: o que veremos é a ampliação de um conflito cada vez mais caótico. Por ora, 140 crianças, por uma mesma 'razão', não vão mais sorrir.

Israel e Palestina, trilha sonora de uma tragédia milenar. Veja o vídeo:
*O jornalista brasileiro Richard Furst vive em Jerusalém e é especialista em Crítica Cultural pela Universidad Católica de Chile. Movendo-se entre o Egito, Israel, territórios palestinos, Jordânia, Líbano e a Turquia, o correspondente colabora regularmente com a imprensa do Brasil, Argentina e Chile. No Oriente Médio, cobriu a revolução no Egito e a crise na Síria. Também é tradutor e prepara o lançamento do seu primeiro livro, "Segundo Deserto".

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