quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A reciclagem no Brasil

19/11/2014  |  domtotal.com

Marcus Eduardo de Oliveira

Segundo o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), a reciclagem no Brasil passou de 5 milhões de toneladas em 2003 para 7,1 milhões de toneladas em 2008, o que corresponde a 13% dos resíduos gerados nas cidades. Se considerada apenas a fração seca (plástico, vidro, metais, papel e borracha), o índice de reciclagem subiu de 17% em 2004 para 25% em 2008. O retorno financeiro é visível: o setor já movimenta R$ 12 bilhões por ano.

Mesmo diante desses bons números, apenas 18% dos municípios brasileiros possuem coleta seletiva, o que faz o País perder cerca de R$ 8 bilhões por ano por deixar de reciclar os resíduos.

A cultura do desperdício e do descarte, não apenas de recursos, mas também de energia e produtos acabados, vem sofrendo um duro golpe em várias sociedades. O conceito diferenciado de se fazer uso parcimonioso das coisas relativas à natureza e dos produtos disponíveis no mercado de consumo vem ganhando cada vez mais novos adeptos na tentativa de se reverter o quadro intenso de perdas e danos pelo uso indevido dos escassos recursos.

Usar e não jogar fora, reutilizar tudo o que pode ser melhorado e reciclar tudo aquilo que pode ser transformado em algo novo tem mudado paradigmas estabelecidos desde longa data.

Não descartar após pouco uso e reciclar quase tudo o que for possível. Esses são preceitos que norteiam a noção de proteção ao meio ambiente.

No que toca a não desperdiçar, a água e os alimentos são, de longe, os “campeões do desperdício”.

O que reciclar?

Em se tratando de reciclagem, cabe indagar: o que devemos reciclar? A resposta é simples: tudo o que for possível. De componentes de materiais urbanos, a jornais, revistas e alguns tipos de papéis (apenas uma tonelada de papel reciclado mantém 20 árvores vivas). De embalagens comerciais (folha-de-flandes, tampinha de garrafa), a vidros (garrafas, copos, potes e cacos) a plásticos (canos, tubos, embalagens PET) passando por roupas e sapatos, pneus e até mesmo carros e aeronaves. Tudo isso é passível de reciclagem.

Apenas referente à aviação é interessante apontar que a Boeing, a Alenia Aeronáutica e a Airbus já trabalham com a noção de desmontar as aeronaves com eficiência reutilizando os mais diversificados materiais compostos de alto valor para a fabricação de aeronaves mais leves. A estimativa mais otimista desse setor é que até 2023 mais de 4000 aeronaves hoje em operação deixarão de voar. Desse “estoque”, 85% dos componentes poderão ser reaproveitados.

A reciclagem é a base da chamada economia de energia, em contraponto a economia de descarte que, pelo menos nas últimas sete décadas, “produziu” com produtos e recursos descartados, a maior pilha de lixo da história da humanidade.

Aguçando esse debate, num artigo intitulado “Mais Economia, Menos Recursos”, Lester Brown aponta para os ganhos do processo de reciclagem. Segundo Brown “o aço feito de sucata consome apenas 26% de energia em relação ao feito com minério de ferro. Para o alumínio, esse número é de 4%. O plástico usa apenas 20%. E papel reciclado, 64%, com bem menos químicos durante o processo. Se as taxas mundiais de reciclagem desses recursos fossem equiparadas àquelas já adotadas pelas economias mais eficientes, as emissões de carbono cairiam rapidamente”.

Veja gráfico acima.

O mais interessante ao se praticar e propagar o processo de reciclagem é que esse procedimento permeia por quase todos os setores produtivos, gerando considerável economia de insumos e energia.

Não por acaso, um terço do consumo mundial de energia repousa sobre as atividades das indústrias do aço, plástico, cimento e papel. Na manufatura, a indústria petroquímica é a grande “devoradora” de energia em escala global. Sozinha, a indústria do alumínio, outra grande consumidora de energia, corresponde a quase 20% do uso de energia industrial.

Reciclar o aço, usado largamente nas indústrias automobilísticas, de aparelhos eletro-eletrônicos de uso doméstico e na construção civil nos parece ser uma das mais interessantes saídas.

Apenas como exemplo, temos que nos Estados Unidos praticamente todos os carros são recicláveis. Por lá não se concebe a ideia de deixar um carro usado apodrecer em ferro-velho.

Ilustrando a importância dessa reciclagem, se faz oportuno apontar que de todo o volume de um carro quase 40% são compostos de peças metálicas e plástico de boa qualidade.

Em alguns lugares, a reciclagem específica de carros tem feito diminuir até mesmo o índice de roubos e furtos. Buenos Aires, por exemplo, desde 2007, tem experimentado com empolgação essa idéia. As seguradoras argentinas cedem os carros sinistrados para o centro de reciclagem e recebem 40% do lucro obtido com a venda das peças. O índice de roubos de veículos despencou em 70% desde a abertura da primeira unidade de reciclagem de veículos. No Brasil, de toda a frota que sai de circulação a cada ano menos de 2% tem como novo endereço uma unidade de reciclagem.

Veja tabela acima.

Afora os carros, os aparelhos domésticos também são boas opções para passarem pelo processo de reciclagem. Brown, na seqüência do artigo mencionado, pontua que “a taxa de reciclagem de aparelhos domésticos nos EUA chega a 90%”. Na Europa, esse índice se aproxima de 95%.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br

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