08/12/2014 | domtotal.com
O eterno drama da seca
Desvios de recursos e corrupção, principais responsáveis por uma realidade que faz parte da história do Brasil.
Por J. Belisário*
Ano após ano, o drama nordestino, contado em verso, prosa, no cinema e no teatro, faz-se presente no quotidiano de milhões de pessoas que vivem no sertão brasileiro. Já não com a violência vivida noutros tempos, mas mesmo assim dramática.
A seca, o período de estiagem que todos os anos flagela muitos milhares de famílias das regiões áridas e semiáridas dos estados do nordeste do país, é fonte de dramas e também de enriquecimento dos detentores da chamada "indústria da seca", apesar das 700 mil cisternas construídas nos últimos dez anos.
Ano após ano, os governos, em todos os níveis, dos federais e dos estados aos executivos municipais, prometem obras e iniciativas mil que tornem menos difícil a vida dos sertanejos, tão bem contada nas prosas de autores como Graciliano Ramos (1892-1953), Rachel de Queiroz (1910-2003), João Guimarães Rosa 1910-2002) ou do poeta João Cabral Melo Neto (1920-1999), entre muitos outros, ou ainda nas imagens do cineasta Ruy Guerra (1931), nascido em Moçambique.
Para o coordenador da rede de ONG Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Antônio Gomes Barbosa, o que acontece "não é um problema da natureza, mas um problema político. É preciso construir cisternas, barragens subterrâneas, armazéns para alimentos e casas de semente. Se tivesse estrutura, a seca teria passado despercebida. Construir a infraestrutura hídrica necessária é barato. Construir um milhão de cisternas é garantir água para todos ao custo de um quarto do que está sendo investido na transposição do Rio São Francisco", como declarou à Agência Brasil.
A famosa “indústria da seca”, já praticada quando o Brasil era colónia, ainda persiste. O negócio do fornecimento de água para as necessidades básicas de sobrevivência desses moradores das terras mais pobres do Brasil e, sobretudo, os desvios de recursos e a corrupção continuam a fazer parte da realidade.
Trata-se de um fenômeno natural, caracterizado pelo atraso na precipitação de chuvas ou a sua distribuição irregular, que acaba prejudicando o crescimento ou desenvolvimento das plantações agrícolas.
Nordeste, a indústria da seca
O problema não é novo, nem exclusivo do Nordeste brasileiro. Ocorre com freqüência, apresenta uma relativa periodicidade e pode ser previsto com uma certa antecedência. A seca incide no Brasil, assim como pode atingir a África, a Ásia, a Austrália e a América do Norte.
No Nordeste, de acordo com registros históricos, o fenômeno aparece com intervalos próximos há dez anos, podendo se prolongar por períodos de três, quatro e, excepcionalmente, até cinco anos. As secas são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI.
As chuvas no semiárido nordestino normalmente ocorrem de dezembro a abril. Quando elas não chegam até março, é sinal de que haverá seca. Muitas vezes fica sem chover dois ou três anos; em casos excepcionais, a falta de chuvas pode durar até cinco anos, como aconteceu de 1979 a 1984.
A seca se manifesta com intensidades diferentes. Quando há uma deficiência acentuada na quantidade de chuvas no ano, inferior ao mínimo do que necessitam as plantações, a seca é absoluta. Em outros casos, quando as chuvas são suficientes apenas para cobrir de folhas mas não permitem o desenvolvimento normal dos plantios agrícolas, dá-se a seca verde.
Essas variações climáticas prejudicam o crescimento das plantações e acabam provocando um sério problema social, uma vez que expressivo contingente de pessoas que habita a região vive, verdadeiramente, em situação de extrema pobreza.
A seca é o resultado da interação de vários fatores, alguns externos à região (como o processo de circulação dos ventos e as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas em determinados locais), e de outros internos (como a vegetação pouco robusta, a topografia e a alta refletividade do solo).
Muitas têm sido as causas apontadas, tais como o desflorestamento, temperatura da região, quantidade de chuvas, relevo topográfico e manchas solares. Ressalte-se, ainda, o fenômeno "El Niño", que consiste no aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico, ao largo do litoral do Peru e do Equador.
A ação do homem também tem contribuído para agravar a questão, pois a constante destruição da vegetação natural por meio de queimadas acarreta a expansão do clima semiárido para áreas onde anteriormente ele não existia.
A seca é um fenômeno ecológico que se manifesta na redução da produção agropecuária, provoca uma crise social e se transforma em um problema político.
A seca, o período de estiagem que todos os anos flagela muitos milhares de famílias das regiões áridas e semiáridas dos estados do nordeste do país, é fonte de dramas e também de enriquecimento dos detentores da chamada "indústria da seca", apesar das 700 mil cisternas construídas nos últimos dez anos.
Ano após ano, os governos, em todos os níveis, dos federais e dos estados aos executivos municipais, prometem obras e iniciativas mil que tornem menos difícil a vida dos sertanejos, tão bem contada nas prosas de autores como Graciliano Ramos (1892-1953), Rachel de Queiroz (1910-2003), João Guimarães Rosa 1910-2002) ou do poeta João Cabral Melo Neto (1920-1999), entre muitos outros, ou ainda nas imagens do cineasta Ruy Guerra (1931), nascido em Moçambique.
Para o coordenador da rede de ONG Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Antônio Gomes Barbosa, o que acontece "não é um problema da natureza, mas um problema político. É preciso construir cisternas, barragens subterrâneas, armazéns para alimentos e casas de semente. Se tivesse estrutura, a seca teria passado despercebida. Construir a infraestrutura hídrica necessária é barato. Construir um milhão de cisternas é garantir água para todos ao custo de um quarto do que está sendo investido na transposição do Rio São Francisco", como declarou à Agência Brasil.
A famosa “indústria da seca”, já praticada quando o Brasil era colónia, ainda persiste. O negócio do fornecimento de água para as necessidades básicas de sobrevivência desses moradores das terras mais pobres do Brasil e, sobretudo, os desvios de recursos e a corrupção continuam a fazer parte da realidade.
Trata-se de um fenômeno natural, caracterizado pelo atraso na precipitação de chuvas ou a sua distribuição irregular, que acaba prejudicando o crescimento ou desenvolvimento das plantações agrícolas.
Nordeste, a indústria da seca
O problema não é novo, nem exclusivo do Nordeste brasileiro. Ocorre com freqüência, apresenta uma relativa periodicidade e pode ser previsto com uma certa antecedência. A seca incide no Brasil, assim como pode atingir a África, a Ásia, a Austrália e a América do Norte.
No Nordeste, de acordo com registros históricos, o fenômeno aparece com intervalos próximos há dez anos, podendo se prolongar por períodos de três, quatro e, excepcionalmente, até cinco anos. As secas são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI.
As chuvas no semiárido nordestino normalmente ocorrem de dezembro a abril. Quando elas não chegam até março, é sinal de que haverá seca. Muitas vezes fica sem chover dois ou três anos; em casos excepcionais, a falta de chuvas pode durar até cinco anos, como aconteceu de 1979 a 1984.
A seca se manifesta com intensidades diferentes. Quando há uma deficiência acentuada na quantidade de chuvas no ano, inferior ao mínimo do que necessitam as plantações, a seca é absoluta. Em outros casos, quando as chuvas são suficientes apenas para cobrir de folhas mas não permitem o desenvolvimento normal dos plantios agrícolas, dá-se a seca verde.
Essas variações climáticas prejudicam o crescimento das plantações e acabam provocando um sério problema social, uma vez que expressivo contingente de pessoas que habita a região vive, verdadeiramente, em situação de extrema pobreza.
A seca é o resultado da interação de vários fatores, alguns externos à região (como o processo de circulação dos ventos e as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas em determinados locais), e de outros internos (como a vegetação pouco robusta, a topografia e a alta refletividade do solo).
Muitas têm sido as causas apontadas, tais como o desflorestamento, temperatura da região, quantidade de chuvas, relevo topográfico e manchas solares. Ressalte-se, ainda, o fenômeno "El Niño", que consiste no aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico, ao largo do litoral do Peru e do Equador.
A ação do homem também tem contribuído para agravar a questão, pois a constante destruição da vegetação natural por meio de queimadas acarreta a expansão do clima semiárido para áreas onde anteriormente ele não existia.
A seca é um fenômeno ecológico que se manifesta na redução da produção agropecuária, provoca uma crise social e se transforma em um problema político.
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