Por Michael O’Loughlin

No sábado, o Cardeal Daniel DiNardo, arcebispo de Galveston-Houston, disse também estar cético quanto às propostas de permitir que católicos divorciados e recasados recebam a Comunhão.
Isto é particularmente significativo visto que DiNardo, vice-presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, foi recentemente eleito pelos seus pares para ser um dos quatro delegados do país a participar no Sínodo dos Bispos no mês de outubro no Vaticano, onde se espera discutir este assunto.
Quanto à reforma do Vaticano, DiNardo estava reagindo à uma apresentação aos cardeais do mundo todo feita pelo conselho de nove cardeais assessores do papa. Nesta apresentação, foi trazida a ideia de se criar dois novos “superdepartamentos”, um para a justiça e paz e outro para os leigos e a família, reunindo uma série de departamentos menores.
“Mas como eles irão fazer isto, encontrar uma forma de reunir uma série de congregações vaticanas?”, perguntou. “Para fazer estas mudanças, a estrutura tem que ser diferente. E eu não ouvi falarem sobre isso”, complementou.
Outras sugestões de reforma, tais como a inclusão de leigos em altos cargos de governança da Igreja, vão enfrentar resistência, disse ele.
“Por mim, está bem”, disse ele sobre incluir leigos nesse sentido. “O problema é que para se colocar alguém como chefe [de um departamento], surge uma dúvida que os canonistas põem: pode um leigo ser chefe se ele tiver um poder delegado [do papa]?”
Ele disse não ser possível ter leigos/leigas liderando os principais departamentos vaticanos, tais como a Congregação para a Doutrina da Fé.
“Aí lidamos com questões relativas à teologia e à dimensão da fé. Creio que o papa quer alguém neste posto que, pelo menos, seja um bispo”, disse.
DiNardo, que trabalha na comissão vaticana responsável pela reforma financeira, elogiou o Cardeal George Pell, religioso que o papa escolheu para pôr as finanças do Vaticano a par nas normas internacionais. Disse que os cardeais pareceram gostar dos informes dados por Pell numa apresentação feita nesta sexta-feira aos cardeais no Vaticano.
Em entrevista Pell disse que informou aos cardeais que o Vaticano tem cerca de U$ 1.5 bilhão a mais em ativos do que anteriormente informado, chegando ao total de aproximadamente U$ 3.2 bilhões, ainda que haja um déficit de cerca de U$ 1 bilhão em fundos de pensão.
Fazer com que todos os departamentos vaticanos usem orçamentos básicos irá levar tempo, disse DiNardo.
“É óbvio que nem todos no Vaticano realmente sabiam claramente como fazer orçamentos tal como entendemos os orçamentos, os valores reais e o orçado, qual o patrimônio verdadeiro, o que realmente se tem”, disse ele.
Afirmou que o maior teste para as reformas financeiras virá em 2016, quando se espera que os departamentos do Vaticano apresentem orçamentos uniformes pela primeira vez.
Quando se trata dos casos de abuso sexual, DiNardo disse que os cardeais ainda estão lutando contra a noção, e até mesmo entre si, de que este não é um problema universal.
“Há ainda o sentimento persistente de que este é, fundamentalmente, um problema anglo-saxão, um problema dos países desenvolvidos. Isto não é verdade. Ele existe em todo o lugar”, disse.
Como as Igrejas mais pobres terão condições de implementar os novos protocolos vaticanos sobre os abusos sexuais, tais como a contratação de vigias atentos aos casos de abusos sexuais, está sendo estudado, informou, ainda que, também segundo o DiNardo, alguns bispos sugeriram que países ricos e fundações ofereçam auxílio.
Quanto ao Sínodo dos Bispos sobre a família a acontecer em outubro deste ano, DiNardo disse que não está “persuadido” pelas propostas que almejam permitir que os católicos divorciados e casados novamente no civil sem a devida anulação sejam admitidos à Comunhão.
DiNardo votaria não?
“Votaria não, sem dúvida”, respondeu.
O cardeal disse achar estas ideias teologicamente inválidas.
“Por um lado, as pessoas estão dizendo que sim, [o matrimônio] é indissolúvel, e em seguida dizem: mas ele não é exclusivo. Eu simplesmente não entendo”, disse.
Em vez de abrandar as regras sobre a Comunhão, ele é a favor da simplificação do processo de anulação.
DiNardo planeja estudar algumas formas de como a Igreja pode apoiar as famílias jovens, e rejeita a noção de que o divórcio ou outras questões candentes – tais como os relacionamentos homoafetivos e o uso de métodos contraceptivos artificiais – irão desempenhar um papel importante em outubro.
“É a maneira como a imprensa consegue fazer algo soar interessante às pessoas. Eu não acho que estes são os assuntos mais significantes”, disse ele.
DiNardo afirmou simpatizar com os casais que escolhem viver juntos, especialmente em comunidades imigrantes carentes, mas disse que outros temas, como se encontrar formas para fortalecer os programas de preparação ao casamento e apoio às famílias jovens, serão o seu foco durante os próximos meses.
O Papa Francisco tem sido criticado por alguns católicos ao, aparentemente, enfatizar a misericórdia nas situações pastorais à custa de abrandar os ensinamentos católicos; DiNardo disse que estas duas coisas devem andar juntas.
“Os casais que se encontram em situações difíceis precisam de acompanhamento. Mas acompanhá-los não é a mesma coisa que dizer: simplesmente venham participar dos sacramentos ou, posteriormente, venham participar deles”, disse. “Uma doutrina boa é um acompanhamento pastoral bom; ela tem uma boa sensibilidade pastoral”.
DiNardo, vice-presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, disse que o papa lhe falou, em outubro passado, que a família será o principal tema de sua visita ao país em setembro, onde falará ao Congresso.
“Espero que ele aborde as necessidades das pessoas marginalizadas, espero que ele fale sobre os nossos imigrantes e as pessoas que, talvez, estejam se sentindo sem esperanças nesta vida. Ele sempre se mostrou excelente nisso”, completou.
Embora espere que o papa fale sobre um pouco do bem que os EUA fazem ao mundo, ele disse que os legisladores deveriam se preparar para ouvir algumas críticas quanto ao papel dos EUA na economia global.
O cardeal disse que nenhum partido político deve pensar que o papa está ao seu lado.
“As pessoas dizem que um dos motivos para isto é: ‘Ok, ele está enfatizando a economia e tudo o mais”, e de fato ele tem feito isso. “Mas ele tem sido também muito severo quanto às questões pró-vida. Acho que ouviremos algo nesse sentido, acho que ele será bem claro aqui”.
National Catholic Reporter, 14-02-2015.
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