quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mercosul: acordos comerciais extra-bloco

O objetivo é que o Mercosul se incorpore aos grandes fluxos comerciais do mundo.

Os países do Mercosul chegaram a um "consenso" e buscarão mecanismos para negociar acordos comerciais bilaterais fora do grupo, uma mudança histórica para o bloco fundado em 1991.
"O Uruguai realizou consultas com todos os países integrantes do Mercosul, e teve dificuldades com alguns, mas há consenso, há acordo para trabalhar uma proposta nesse sentido", explicou Nin Novoa em coletiva de imprensa na sede da chancelaria uruguaia.
O objetivo, argumentou, é que o Mercosul se incorpore aos grandes fluxos comerciais do mundo. Para isso, o chanceler acredita que os países-membros precisam buscar novos acordos comerciais.
"Brasil, Paraguai e Uruguai estão nessa sintonia", disse. "Estamos em um bom caminho nessa direção", confirmou.
Fontes próximas às negociações disseram à AFP que há vontade de que essa mudança se dê sem modificar as normas do Mercosul, que impedem seus membros de negociar tratados comerciais sem a anuência dos demais.
No caso da Argentina e da Venezuela está claro, segundo as fontes, que não poderão avançar no mesmo sentido nem na mesma velocidade dos outros três sócios.
Um projeto que muda
"O Mercosul não pode continuar virando as costas para as grandes negociações internacionais", disse à AFP Washington Durán, vice-presidente da Comissão de Comércio Exterior da Câmara de Indústrias do Uruguai (CIU).
Nicolás Albertoni, pesquisador do Centro para Estudos Latino-americanos da Universidade de Georgetown e autor do livro sobre comércio "Entre o bairro e o mundo", disse em diálogo com a AFP desde Washington que o Mercosul "é a única parte da América Latina que está sem dialogar com o mundo".
O Mercosul vê em iniciativas como a Aliança do Pacífico entre Chile, Colômbia, México e Peru, avanços "muito mais rápidos".
Durán avaliou positivamente a mudança de postura do Brasil, que tem discutido as regras de comércio em negociações bilaterais, em vez de priorizar a Organização Mundial do Comércio, como costumava fazer.
Na semana passada, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Armando Monteiro, deixou claro que tentará dotar o bloco de certa flexibilidade, como Uruguai e Paraguai já pediram reiteradas vezes.
"O Mercosul é uma construção muito importante para o Brasil, e tem que ser valorado e preservado (...) todos os países têm um grau de liberdade para celebrar acordos bilaterais e é isso que o Brasil também vai buscar para se inserir nas principais correntes de comércio do mundo. Nada impede que o Brasil firme acordos bilaterais", resumiu Monteiro.
Para Albertoni, esse é a iniciativa mais clara de busca por flexibilidade que o bloco já teve.
"Não é a mesma coisa ter o Brasil contra e ter o Brasil a favor", resumiu Durán, o assessor da CIU.
Necessidade de o Brasil impulsionar a abertura
A posição de abertura do Brasil tem-se acentuado desde que Dilma Rousseff assumiu seu segundo mandato, em janeiro. A presidente já defendeu algumas vezes um acordo Mercosul-União Europeia (UE) e, ultimamente, mencionando a possibilidade de abordar a questão do livre-comércio com a China.
"É um tema muito importante e tem que estar na agenda da reunião com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, na semana que vem no Brasil, disse a presidente em entrevista à imprensa chinesa.
Tradicionalmente oposto a que os países do Mercosul negociem acordos comerciais por fora do grupo, o Brasil teve que modificar sua posição em meio à crise econômica e às pressão de setores empresariais.
Em abril, o FMI reduziu a previsão de crescimento brasileira para 2015, prevendo uma contração do PIB de 1%.
Fontes próximas aos negociadores do Mercosul disseram à AFP que as pressões dos grupos empresariais que se viram afetados pela perda das preferências tarifárias com a União Europeia ganham cada vez mais força em Brasília.
"Uma grande quantidade de exportações do Brasil não pode ingressar com tarifas preferenciais na UE. Por isso a insistência do Brasil em impulsionar esse acordo, estagnado há 10 anos", lembraram.
A Argentina nunca apresentou ao bloco sul-americano suas ofertas relativas ao acordo com a UE.
"Agora, os europeus acabam recebendo uma oferta fracionada de alguns países do Mercosul e não do bloco e, seu conjunto", preveem as fontes.
Assim, o bloco fundado há quase 25 anos se encaminha para uma mudança histórica que pode levar à abertura comercial que alguns de seus membros pedem.
AFP

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