quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Papa canoniza franciscano espanhol que levou mensagem católica à Califórnia


Agência Ecclesia 23 de Setembro de 2015      (Lusa)
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São Junípero Serra, missionário do século XVIII, apresentado como exemplo de Igreja «em saída»

Lisboa, 23 set 2015 (Ecclesia) - O Papa canonizou hoje nos Estados Unidos da América (EUA) o Beato Junípero Serra (1713-1784), franciscano que evangelizou a Califórnia, durante a sua viagem aos Estados Unidos da América.

“E hoje recordamos uma daquelas testemunhas que souberam testemunhar nestas terras a alegria do Evangelho: padre Junípero Serra. Soube viver aquilo que é ‘a Igreja em saída’, esta Igreja que sabe sair e ir pelas estradas, para partilhar a ternura reconciliadora de Deus”, disse, na homilia da celebração que decorreu no Santuário nacional de Washington, dedicado à Imaculada Conceição.

“Junípero procurou defender a dignidade da comunidade nativa, protegendo-a de todos aqueles que abusaram dela; abusos que hoje continuam a encher-nos de pesar, especialmente pela dor que provocam na vida de tantas pessoas”, acrescentou.

A decisão tinha sido anunciada pelo próprio Papa em janeiro, durante a viagem que o levou do Sri Lanka às Filipinas, ao falar das canonizações ‘equipolentes’, um processo em que o Papa reconhece a santidade sem a necessidade de um milagre após a beatificação, como aconteceu com São José Vaz (1651-1711), missionário no Sri Lanka que nasceu em Goa, então território português.

O Papa entrou na Basílica, antes da celebração eucarística, para rezar na capela do Santíssimo Sacramento e depositar um ramo de flores junto à imagem da Imaculada Conceição.

A canonização, maioritariamente celebrada em espanhol, reuniu cerca de 40 mil pessoas ao ar livre, diante da Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, maior templo católico dos EUA, no nordeste da capital norte-americana e longe dos símbolos políticos como a Casa Branca e o Congresso.

Francisco desafiou os participantes a “aprofundar a alegria do Evangelho” nas várias situações da vida, indo ao encontro de todos, “com cara de tristeza, fome, doença, pecado; com cara de ferimentos, sede, cansaço”.

A canonização gerou alguma polémica nos Estados Unidos da América, com protestos de responsáveis dos povos nativos, mas segundo os responsáveis franciscanos, há 191 cartas do futuro santo que revelam a sua “defesa intrépida dos povos indígenas” em território norte-americano.

O Papa sublinhou que São Junípero Serra “soube deixar a sua terra, os seus costumes, teve a coragem de abrir sendas, soube ir ao encontro de muitos aprendendo a respeitar os seus costumes e as suas características”.

Simbolicamente, no final da Missa, Francisco vai cumprimentar representantes das comunidades nativas da Califórnia, cujas línguas foram utilizadas nas orações da Missa.

Junípero Serra nasceu em Maiorca, em 1713, tendo sido ordenado padre em 1737; cerca de dez anos depois, ofereceu-se para ser missionário, tendo começado a trabalhar no continente americano na Sierra Gorda, México, junto dos indígenas Pame.

Desde 1769 até 1784, ano da sua morte, Junípero Serra foi presidente das missões franciscanas desta região, com ação junto de diversos grupos de indígenas -  Kumeyaay, Ohlone, Salinan, Tongva, Acjachemen e Chumash.

O novo santo aprendeu a língua Pame e traduziu neste idioma as orações e os preceitos cristãos, difundindo também a devoção pela Imaculada; de 1767 a 1784, percorreu só na Califórnia cerca de dez mil quilómetros a pé.

A biografia divulgada pelo Missal oficial da viagem do Papa recorda que o futuro santo entrou em confronto frequentemente com as autoridades militares “sobre a melhor maneira de tratar os indígenas”.

O texto admite que muitos indígenas “morreram nas missões, muitas vezes por causa das doenças introduzidas pela incursão espanhola na área”.

O religioso foi beatificado pelo Papa João Paulo II a 25 de setembro de 1988.

Já de regresso à Nunciatura Apostólica, onde fica alojado durante a sua estadia na capital norte-americana, Francisco para junto do novo seminário São João Paulo II, para descerrar uma placa comemorativa e assina o livro de ouro da instituição.

OC

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