segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A voz que não cala

O mundo exalta o centenário do grande crooner que inventou um novo jeito de cantar

Por Marco Lacerda*
No dia 12 de dezembro de 1915, numa casa pobre do bairro italiano de Hoboken (Nova Jersey), a vinda ao mundo de Francis Albert Sinatra quase foi interrompida pela imperícia de um médico no uso do fórceps. “Eu não queria nascer, foi preciso minha avó me meter numa bacia de água gelada para eu começar a respirar”, disse uma vez o cantor cujo centenário está sendo lembrado em todo o mundo. Frank Sinatra foi a primeira grande estrela da música popular contemporânea, eternizado como A Voz, intérprete de canções e ator de filmes que marcaram época, olhos azuis e uma lendária voracidade por mulheres.
Naquela época Hoboken era um subúrbio lento e mal vestido de onde avistava-se os arranha-céus de Nova York, do outro lado do rio Hudson, mas tão longe da metrópole tentadora. Os italianos eram considerados cidadãos de segunda classe, inferiores até aos irlandeses com os quais dividiam o bairro. Os Estados Unidos estavam a ponto de salvar o mundo ao entrar na I Guerra Mundial e tornar-se a superpotência que é hoje.
A vida não só era dura mas, como logo comprovaria o jovem Sinatra, marcada por estereótipos e pela discriminação que ditavam o ritmo da sociedade de Hoboken. Frank rebelou-se contra os preconceitos étnicos e raciais e desencadeou um fenômeno épico na música popular. O sonho americano era ele, com suas origens proletárias, seu talento vocal e a ambição sem limites de alcançar o topo do mundo, como canta em ‘All or nothing at all’: tudo ou absolutamente nada. A canção dá título a um ambicioso documentário da HBO lançado mundialmente em DVD, junto com novos livros e biografias do cantor.
Mas nem todo o dinheiro, mulheres e aduladores conseguiram apagar a melancolia que o acompanhou até o último suspiro. Num perfil escrito para a revista Esquire em 1966 – ‘Frank Sinatra está resfriado’, pedra angular do chamado Novo Jornalismo – Gay Talese conta que “a infância de Sinatra foi de solidão e de luta para chamar a atenção; depois que os conseguiu nunca mais teve possibilidade de ficar sozinho”.
Tudo isso está sendo recordado na avalanche de publicidade em comemoração ao centenário do cantor, com ênfase no Sinatra inseguro e atormentado mas sem deixar de lado a trajetória do homem que inseriu a música popular na grande indústria do entretenimento, depurando a herança do jazz e das big bands para criar uma nova forma de cantar, melódica, romântica e sensual que até hoje enfeitiça o mundo.
Um dos maiores sucessos de Frank Sinatra. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal

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