quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Francisco aos capuchinhos: “Sejam grandes perdoadores, não grandes condenadores”

Na missa na Basílica Vaticana, o papa pede que os frades nunca se cansem de perdoar e evitem as “pauladas” em quem vai ao confessionário
Missa do Papa com Capuchinhos
Barbas longas e hábitos marrons; mãos unidas e cabeças inclinadas à espera do início da missa; um clima geral de oração, em presença das urnas com os corpos dos santos confessores Pio e Leopoldo, diante das quais se aglomeravam mais e mais fiéis.
Era de recolhimento o ambiente que permeava a Basílica Vaticana durante a missa que o papa celebrou com e para 4.000 frades menores capuchinhos no Altar da Cátedra. “Um gesto de afeto”, disse o ministro geral Mauro Johri no final da celebração. Carinhosas também foram as palavras do papa durante a homilia, toda focada no perdão.
“A sua tradição capuchinha é uma tradição de perdão”, disse o papa, que, recordando a obra “Os Noivos”, de Manzoni, acrescentou: “Hoje existem muitos bons confessores e é porque eles se sentem pecadores como o nosso frei Cristóvão: eles sabem que são grandes pecadores. Diante da grandeza de Deus, eles pedem: escuta e perdoa. Porque sabem rezar, eles sabem também perdoar”.
O humilde, o seja, “aquele que se sente pecador”, é, de fato, “um grande ‘perdoador’ ​​no confessionário”. Já os outros são como os doutores da lei do evangelho de hoje, para quem “tudo era preciso; deixavam de lado a lei para fazer as suas pequenas tradições”. Eles “se sentem os mais puros, os mestres, mas só sabem condenar”.
“Quando alguém se esquece da necessidade que tem do perdão, lentamente se esquece de Deus; esquece de pedir perdão e não sabe perdoar”, disse o Santo Padre. E advertiu contra o perigo de que isto se reflita naqueles que administram o sacramento da reconciliação.
“Eu lhes falo como irmão e gostaria de falar a todos os confessores neste ano da misericórdia: o confessionário é para perdoar, e, se você não puder dar a absolvição, por favor, não dê pauladas”. As pessoas vão “buscar a paz para a alma”; por isso, é necessário “encontrar um padre que dê a paz e diga: Deus ama você…”.
“Lamento dizer isto, mas quantas pessoas, e eu acho que a maioria de nós já ouviu isso, dizem: ‘eu nunca vou me confessar porque uma vez me fizeram essas perguntas…’”.
Todos os confessores, pediu o papa, nunca se esqueçam “desta missão especial de perdoar” e nunca se cansem de fazê-lo. Como o frade capuchinho de Buenos Aires, amigo de Bergoglio, que foi enviado aos 70 anos a um santuário para confessar. Aquele homem, disse o papa, “tinha uma fila de pessoas: sacerdotes, fiéis, ricos e pobres… Ele era um grande ‘perdoador’, sempre achava o jeito de perdoar ou pelo menos deixar aquela alma em paz com um abraço”.
“Uma vez eu o encontrei e ele me disse: eu acho que peco porque perdoo muito. Sempre encontro um jeito de perdoar”. “E o que você faz?”, perguntou o então cardeal Bergoglio. “Eu vou à capela, diante do tabernáculo, e digo: ‘me perdoa, Senhor, acho que hoje eu perdoei demais. Mas, Senhor, foste tu que me deste o ‘mau’ exemplo!”.
Perdoar, então, é a palavra-chave. E isso pode ser feito com palavras, mas também com a linguagem dos gestos. “Se uma pessoa se aproxima de mim no confessionário, é porque sente que algo lhe pesa, algo que ela quer tirar de cima de si; talvez não saiba como dizer, mas o gesto significa isso”, disse o papa. “Ela gostaria de mudar, de ser outra pessoa e diz isso com o gesto de se aproximar. Não é preciso lhe fazer perguntas, ‘mas você… você…’. Se uma pessoa vem é porque, em sua alma, gostaria de não fazer mais isso. Mas muitas vezes não podem, são condicionadas pela sua psicologia, pela sua vida, pela sua situação. Ad impossibilia nemo tenetur (ninguém é obrigado a fazer coisas impossíveis, ndr)”.
“Sejam homens do perdão, da reconciliação, da paz”, exortou o bispo de Roma. Porque o perdão é como “uma semente”, “uma carícia de Deus”. “Tenham fé no perdão de Deus, não caiam no pelagianismo – ‘você tem que fazer isso, isso e isso’. Vocês tem este carisma de confessores; retomem-no, renovando-o sempre, e sejam grande ‘perdoadores’, porque aqueles que não sabem perdoar terminam com os doutores da lei, são grandes ‘condenadores’. E quem é o grande acusador na Bíblia? O diabo”.
“Ou vocês fazem o ofício de Jesus, que perdoa, ou fazem o do diabo, que condena e acusa”.
Francisco dirigiu uma palavra final a todos os sacerdotes que “não sentem vontade” de confessar: “Sejam humildes, digam não: eu celebro a missa, até limpo o chão, mas não sei ser confessor…”.
A celebração terminou com a saudação do pe. Johri, que agradeceu ao papa por ter cumprido o desejo de celebrar uma missa com eles e expressou a sua alegria pelo encontro histórico que Francisco terá com o patriarca Cirilo no dia 12 de fevereiro, em Cuba – certamente, disse ele, o pequeno São Leopoldo Mandic também ajudou para que esse encontro ocorresse.
Os frades passaram então para a Sala Paulo VI para um café-da-manhã oferecido pelo Santo Padre. Sorriso em lábios, todos comentam as palavras recém-ouvidas do papa, enquanto saboreavam o café e, é claro, os cappuccinos. Zenit

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