Assim, 2016 vem pulando de galho em galho, cheio de surpresas.
Por Fernando Fabbrini*
Segunda feira passada começou o novo ano lunar, o do Macaco. Dizem que Buda chamou os animais para uma reunião e cada bicho que chegava ganhava um ano de presente. Assim, 2016 vem pulando de galho em galho, cheio de surpresas. Andei consultando astrólogos, pais de santo diversos e bruxos de várias linhas e estes já me deram as dicas de como serão os próximos 365 dias que nos aguardam.
O trânsito desordenado e as conjunções inesperadas influenciarão os motoristas de todos os signos, que continuarão estacionando em fila dupla e tripla, principalmente diante das escolas, ligando o pisca-alerta como desencargo de consciência. Enquanto isso, o caos se instala nos quarteirões vizinhos. A BHTrans já vai providenciou mais uma campanha educativa, como faz todos os anos nesse período, já que os motoristas – pobrezinhos! – não têm a mínima noção das regras mais elementares de trânsito e necessitam serem educados com carinho, paciência e tolerância. Pelo enésimo ano consecutivo, receberão sorrisos paternais dos gentis monitores e folhetinhos bem impressos sugerindo “um convívio mais humano e participativo”. Enquanto isso, os guardas de trânsito, graças à influência do Sol, estarão à sombra, bem longe dali, conversando animadamente sobre as sutilezas da Física Quântica e a origem dos Quasars.
As pirâmides confirmam que este ano a televisão apresentará uma série de novos programas caríssimos e absolutamente idiotas, com ênfase em sexo, sexo, sexo, sexo - e amor, pra disfarçar. Novas novelas virão, repetindo os cenários de a) favela carioca com traficantes maus e jovens bonzinhos trabalhadores que sonham com uma vida honesta b) mansão de família milionária sem escrúpulos com suspeita de paternidade incestuosa e intrigas por conta de dinheiro c) pequena cidade indefinida onde todos falam com sotaque nordestino forçado d) locações em algum país estrangeiro dito exótico e) todas as anteriores, misturadas. Na música, além dos Safadões, virão ainda os Canalhas, os Libidinosos, os Sicários e os Espertalhões, todos se enriquecendo às custas do grande conjunto dos Bobos, imbatível nas paradas.
O Tarô avisa que nas empresas, autarquias e órgãos públicos não devem ocorrer novidades ou grandes reformas. Como é de praxe, os puxa-sacos serão naturalmente promovidos a gerentes gerais, diretores adjuntos e outros cargos de chefia, enquanto os indivíduos inovadores, criativos e saudavelmente críticos continuarão a receber olhares desconfiados do RH. Nas empreiteiras, a corrupção será rigorosamente punida, caso ainda tenha sobrado algum dinheiro após o Mensalão e o Petrolão.
O ano do Macaco, como era de se esperar, será marcado fortemente pela macaquice. Isso significa que os políticos continuarão saltando de um galho a outro, tentando salvar seus rabos após terem metido as mãos nas tenebrosas cumbucas reveladas pela imprensa. Ao mesmo tempo, permanecerão exercitando os músculos faciais em sorrisos melífluos, buscando angariar a simpatia dos eleitores – aquele outro bando de macacos bem intencionados que trabalham dia e noite para sustentar seus semelhantes primatas via impostos indecentes.
Outra peculiaridade é que, no ano do Macaco, várias pessoas em diversas partes do mundo estarão com a macaca, surpreendendo os incautos com atitudes inimagináveis. Outras, principalmente famosos & celebridades, pagarão micos diversos – o que eu espero ansiosamente.
Finalmente, no ano do simpático primo-irmão estaremos assistindo, impávidos, a passagem de mais centenas de dias e noites – lembrando que cada período de vinte e quatro horas deve ser vivido como um brinde, um presente do Universo em cartelas numeradas, destacadas uma a uma, cuidadosamente. Este é o preço cobrado para garantir nossa presença nesta imensa espaçonave, deslizando para mais uma volta em torno do Sol. Resta-nos arrumar um assento confortável na janela e apreciar a paisagem lá fora, aplaudindo cada novo número do show dos macaquinhos que nos acompanharão.
*Fernando Fabbrini é roteirista, cronista e escritor, com dois livros publicados. Participa de coletâneas literárias no Brasil e na Itália e publica suas crônicas também às quintas-feiras no jornal O TEMPO.
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