sexta-feira, 24 de junho de 2016

Comunicação humanizada, caminho evangelizador

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A Palavra criadora de Deus é a expressão do espaço para que haja o outro.
A Palavra de Deus, como comunicação de um Deus que cede espaço à existência do mundo, é relação.
A Palavra de Deus, como comunicação de um Deus que cede espaço à existência do mundo, é relação.

Por Felipe Magalhães Francisco*

Somos seres de linguagem. Como seres-com-os-outros-no-mundo somos mediados pela linguagem. Nossa abertura para o outro e a liberdade com a qual nos relacionamos com este são possíveis pelo fato de existir comunicação, a partir da ampla e complexa teia que é a linguagem. A linguagem é condição de possibilidade para nossa humanização e para a humanização de nossas relações.

Essa é uma realidade tão importante para o judaísmo e para o cristianismo, que, junto ao islamismo, são consideradas, popularmente, como religiões do Livro – ainda que muitas críticas possam ser feitas a tal consideração. A referência ao Livro é, nesse caso, referência direta à Palavra de Deus: as três tradições compartilham a ideia de um Deus que se revela, isto é, que se comunica.

O judaísmo, nesse sentido, traz uma ideia importante, para a compreensão de Deus. O Deus dos pais, o Libertador, é o Deus que cria todas as coisas por meio de sua Palavra. É uma Palavra, o dabar divino, que realiza o que diz, é performática. Do faça-se! surge a possibilidade da alteridade. A Palavra criadora de Deus é a expressão do espaço para que haja o outro. A Palavra de Deus, como comunicação de um Deus que cede espaço à existência do mundo, é relação.

Por isso Deus se autocomunica: revela-se como proposta de amor e de comunhão. Sinal mais profundo dessa autocomunicação é a encarnação da Palavra de Deus, o próprio Filho, que se une à humanidade para estreitar, plenamente, os laços de amizade entre nós e Deus. Nesse sentido, Jesus é a Parábola de Deus, conforme nos ajuda a perceber a mestra em teologia, Tânia da Silva Mayer.

Porque, em Jesus, estamos atrelados de uma vez para sempre ao Pai, ao partilharmos de uma mesma humanidade, somos chamados a anunciar ao mundo tamanha graça. A comunhão divina não é prêmio para os bons, mas dom para todos, basta que nos abramos a ela. Esse é o anúncio que todos os discípulos e discípulas de Jesus são chamados a fazer: o Reino de Deus é festa de vida para todos. No anúncio do Reino, como proposta de comunhão com o Deus trino, não bastam palavras. É preciso que nos empenhemos com todo o nosso ser, para que nosso testemunho seja fidedigno e toque o coração de todos. O artigo, Somos seres de comunicação, do Pe. Claudemar Silva, Assessor de Comunicação da Diocese de Uberlândia, ajuda-nos a perceber a dinâmica da comunicação como constituinte do que somos, porque estamos atrelados a Deus. Disso decorre nossa vocação para a comunicação.

Evangelizar é anunciar que vale ter esperança, pois Deus, que tanto nos quer bem, assumiu plenamente nosso jeito de ser, para que vivamos em sua comunhão. Só assim a humanidade alcançará sua plena realização. Essa é a missão da Igreja, que dispõe de muitos meios para fazer chegar a todos o anúncio inaugurado por Jesus. Nesse sentido, propomos o artigo Os meios de comunicação católicos e a evangelização, no qual fazemos uma provocação sobre a missão pastoral, por meio dos canais e estações católicos. 

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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