sexta-feira, 29 de julho de 2016

Cristianismo libertador: a teologia da libertação

domtotal.com
Mesmo com tantas incompreensões e preconceitos, método segue vivo e amadurecido.
Sinais da teologia a serviço da libertação são possíveis de serem vistos em muitas comunidades.
Sinais da teologia a serviço da libertação são possíveis de serem vistos em muitas comunidades.

Por Felipe Magalhães Francisco*

Percebe-se um mal-estar, entre os católicos, quando a expressão “Teologia da Libertação” se faz ouvir. Fora dos espaços pastorais mais engajados, ou das faculdades teológicas, o que se encontra é preconceito a essa forma de se fazer teologia. Esse preconceito é um fruto amargo do pontificado de João Paulo II, período cuja Prefeitura da Congregação para a Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício), estava sob os cuidados de Joseph Ratzinger – que veio a ser o sucessor de João Paulo II, no papado, como Bento XVI.

O método de análise da realidade das ciências sociais, a partir do pensamento de Karl Marx, e utilizado para agregar um olhar crítico de leitura da realidade pelos teólogos latino-americanos, acendeu uma luz amarela no Vaticano, cuja liderança estava sob o poder de João Paulo II, crítico ferrenho ao comunismo. Um controle rígido veio a ser feito, pela Congregação para a Doutrina da Fé, em relação à teologia latino-americana, chamada de Teologia da Libertação e aos teólogos que a propunham. Esse controle rígido significou um estado de alerta a tudo aquilo que era produzido, revelando um medo de que a teologia aqui produzida tivesse qualquer nuance comunista.

O que era um escrupuloso alerta, por parte da hierarquia romana, chegou às camadas simples dos fiéis, que não acompanham os desdobramentos teológicos das questões, que a Igreja condena a Teologia da Libertação, por ser comunista. O que não corresponde à verdade, ainda que muitos líderes, padres e leigos, sejam eles mal-intencionados ou ingênuos, apregoem tal coisa. Sinal da inverdade de tal condenação, é assunção, por parte de toda a Igreja e de seu Magistério, da expressão axiomática, própria da Teologia da Libertação: “A opção preferencial pelos pobres”, ainda fortemente ecoante nos dias de hoje.

Ora, o uso legitimamente científico do método marxista não configura um acatamento à ideologia marxista do comunismo, mas é um suporte, entre tantos outros, a enriquecer o fazer teológico que precisa estar atento à realidade, a partir dos sinais dos tempos. A Teologia da Libertação, mesmo em meio a tantas incompreensões e preconceitos, segue viva e amadurecida. Atualmente, configura-se como teologias da libertação, atuando em várias frentes, e por todo o mundo em vias de libertação: teologia negra, teologia feminista, teologia ameríndia, entre tantas outras ricas expressões. Seus sinais, são possíveis de serem vistos em muitas comunidades vivas e atuantes, verdadeiros sinais do Reino, tais como as Comunidades Eclesiais de Base (Cebs).

Porque esta é uma maneira iminentemente latino-americana de fazer teologia, da qual devemos nos orgulhar, e porque precisamos vencer o preconceito que cega, propomo-nos a refletir sobre a importância de compreendermos o cristianismo em seu dinamismo libertador. Nos artigos propostos por nossos colaboradores, encontramos, muitas vezes, a palavra práxis. Isso é, sem dúvidas, um sinal do compromisso das teologias da libertação com o Reino que desponta e precisa despontar em nossa história. A práxis é a maneira própria do agir cristão, no mundo: não atuamos com práticas desvinculadas da compreensão crítica da realidade, mas segundo um olhar atento aos sinais de nosso tempo, lidos à luz da Palavra de Deus, feita carne em Jesus de Nazaré, baliza para nosso serviço de libertação dos injustiçados do mundo.

No artigo Por uma Teologia libertadora, o Pe. Antônio Ronaldo Vieira Nogueira, mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), propõe-nos uma introdução aos princípios e fundamentos de uma Teologia de caráter libertador, apresentando-nos uma visão bíblica, teológica e pastoral de que toda práxis libertadora nasce da parcialidade de Deus, na defesa dos pobres do mundo, em toda a História da Salvação.

Possibilitando-nos compreender a libertação, sob a perspectiva protestante, o doutorando em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), Fabrício Veliq, propõe-nos o artigo Qual a liberdade que pregamos?, no qual, a partir da teologia proposta por Jürgen Moltmann, interpela-nos sobre a importância de compreendermos o que, verdadeiramente, significa a libertação e seus desdobramentos para a práxis cristã, à luz do Evangelho, no hoje das comunidades de fé.

O terceiro artigo, preparado pelo mestre em Teologia, o Pe. José Almir da Costa, Uma pastoral libertadora no contexto urbano, coloca-nos diante da vivacidade da Teologia da Libertação, atualmente. Uma pastoral urbana, de caráter libertador, revela uma presença atuante da teologia latino-americana e a urgência de uma práxis pastoral que precisa sempre se ressignificar, à luz da missão de Jesus. No artigo, o autor nos interpela sobre a importância de fazermos uma autêntica opção libertadora no exercício pastoral, com atenção a essa imperiosa realidade urbana, que produz injustiça, pobreza e marginalização.

Boa leitura, sempre!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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