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A Grã-Bretanha não pode viver sem a União Europeia.
Marguerita Bornstein, de New York.
Por Lev Chaim*
Nesta semana, recebi a agradável visita de uma grande amiga inglesa, aposentada da Universidade da cidade holandesa de Utrecht, agora morando novamente na Inglaterra. Dizer que ela estava chocada com o resultado do plebiscito britânico, sobre a saída do país da União Europeia (EU), era pouco. Ela estava furiosa.
Em nossa conversa, esclarecemos vários pontos que estavam nebulosos. Os britânicos votaram a favor da saída de seu país da UE com os olhos na situação caótica da nação e jogando a culpa de tudo na burocracia de Bruxelas e nos imigrantes que chegaram em seu território. Isto, orientado pelos políticos conservadores. E tem mais: apesar de muitos ingleses serem contra a União Europeia, os escoceses e os irlandeses do norte não o são e querem permanecer na UE.
Há tempos que o governo conservador britânico, sob a liderança de David Cameron, havia prometido não aumentar os impostos, o que deixou os britânicos numa ilusão sem fim. Em contrapartida, foram cortados vários benefícios sociais e, ao mesmo tempo, a inflação foi corroendo o poder aquisitivo dos cidadãos. Agora, com este referendo, em vez de ser um parecer sobre o governo conservador, a culpa acabou por recair em cima da União Europeia.
Esta minha amiga inglesa me disse que hoje em dia, no Reino Unido, se uma pessoa quer marcar uma consulta com o seu médico clínico geral, ou médico de família, como muitos o chamam aqui, demora-se uma média de 3 semanas. Na Holanda, você liga hoje e é atendido amanhã e, as vezes, até mesmo no mesmo dia. Isto quer dizer que o plano de austeridade do governo conservador britânico não funcionou e eles nada fizeram para mudar de curso: nem David Cameron e nem o chefe da campanha do êxito, o ex-prefeito de Londres, o demagogo Boris Johnson e nem o chefe do partido direitista da independência, o Famigerado Nigel Farage.
E sobre Boris Johnson, minha amiga eu concordamos plenamente. Quando alegam que a sua gestão frente a prefeitura de Londres foi um sucesso em vários aspectos, isto não aconteceu devido a sua capacidade administrativa. Ele tinha uma equipe de subprefeitos bem capacitados, que organizaram tudo direitinho, fizeram dos jogos olímpicos na cidade um sucesso e deixaram espaço para que Boris se perfilasse perante a mídia nacional e internacional, como o grande administrador público.
Vejam vocês: cerca de 67% de todo o serviço de saúde pública britânica é preenchido por médicos e enfermeiros de países da União Europeia. A maior parte dos melhoramentos das estradas britânicas são feitas com verbas europeias, como também mais de 50% das pesquisas realizadas em Universidades britânicas. Será que David Cameron não enxergou isto ao ceder a pressão em seu partido para a realização de um plebiscito? Por que ele não contou ao povo britânico a verdade? Desmoralizaria o seu próprio gabinete conservador? E Boris, que colocou todo o seu canhão em prol do ‘não’ à UE, acabou por dizer coisas que não condiziam com a verdade. E na hora de assumir responsabilidade, após o referendo, acabou caindo fora.
E por último, a falha da liderança trabalhista britânica que não soube aproveitar o momento e levantar a tempo todas essas questões para a população britânica que, iludida, colocava todos os erros que aconteciam no país nas costas de Bruxelas e na vinda de imigrantes. Sem dizer ainda que este referendo, na verdade, funciona como um conselho ao governo, mas não é determinante. David Cameron poderia muito bem ter dito que iria discutir o assunto em seu governo, para dar tempo para que se elaborasse um plano de êxito, coisa que eles ainda não têm.
Resumindo tudo, minha amiga e eu chegamos a seguinte conclusão: a política britânica de todos os lados falhou e deixou o povo votar uma questão muito complexa, sem maiores esclarecimentos, com um simples ‘sim ou não’. Acabamos de tomar o nosso café e fomos dar uma volta com o meu cão para aliviar a cabeça. O engano foi feito, agora tem-se que reparar os estragos, pois a Grã-Bretanha não pode viver sem a União Europeia.
Por outro lado, pensamos também que os britânicos tinham que voltar a viver a realidade do país. Há muito tempo, eles foram um grande império. Hoje, não o são mais e o país passa por sérias dificuldades que necessitam ser atacadas de frente e não com subterfúgios. Sem dizer ainda que um novo plebiscito pode estar a caminho para a Escócia e Irlanda do Norte (pró-EU) se separarem do Reino Unido. Na minha opinião e da minha amiga inglesa, as carreiras políticas de Cameron e Boris Johnson estão totalmente terminadas.
*Jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.
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