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Uma lista dos mais importantes programas e séries.
É uma série seminal e eterna. E ainda tem o Spock!
Por Alexis Parrot*
No dia em que a democracia brasileira está prestes a virar ficção científica de vez, (a depender do resultado da votação lamentável pelo impeachment da Presidenta Dilma Roussef por um Senado Federal igualmente lamentável), por que não celebrar esse gênero, um dos favoritos da televisão e do público?
Proponho abaixo, em ordem decrescente (para que algum suspense se mantenha) uma lista dos dez mais importantes e/ou melhores programas e séries que já passaram pelas telinhas de nossos televisores (ou pelo monitor de nossos computadores).
10) Stranger Things (2016 -)
Com apenas uma temporada no currículo, a série do Netflix já merece entrar em qualquer lista séria sobre ficção científica na televisão. Tanto pelo que já nos deu em frescor (mesmo sendo toda baseada em referências a filmes e literatura de suspense dos anos 70 e 80) quanto pelo carisma de personagens e elenco é uma aposta que tende a galgar postos mais altos, à medida que venham novas temporadas.
9) Alf, o E.T.eimoso (1986-1990)
Um imigrante ilegal (que, por acaso, era também um alienígena), cuja nave espacial cai no quintal de uma família de classe média em Los Angeles. Ao contrário de outro famoso alien - que só pensava em telefonar e voltar para casa - Alf não tinha mais para onde voltar; seu planeta natal, Melmack, havia explodido e ele era o único sobrevivente de sua raça. O choque cultural entre terráqueos e o desavergonhado melmackiano era o ponto central da trama, propulsão do humor anárquico da série.
No Brasil, a dublagem do alienígena foi feita pelo lendário Orlando Drummond e seu bordão principal (Tá Limpo!!) consegue arrancar sorrisos ainda hoje, mais de 25 anos após o fim do programa.
8) Firefly (2002-2003)
Criada pelo inventivo Joss Whedon (responsável também por Buffy e Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D.) para o canal FOX, propunha um cruzamento estranho entre espaço sideral e velho oeste no ano distante ano de 2517. O impacto estético desse mashup na audiência é uma sensação de estranhamento e curiosidade.
Os próprios executivos do canal sabotaram a série desde o inicio, incomodados com detalhes como a presença de um casal interracial na trama. A série foi exibida com os episódios fora da cronologia que o roteiro propunha e foi vendida ao público como uma comédia rasgada.
Apesar de tudo, Firefly foi conquistando uma legião de fãs que só fez crescer, mesmo após seu cancelamento após uma única temporada. Apoiado por esse pequeno culto em torno da série, Whedon conseguiu realizar um filme, em 2005, Serenity, onde a série, afinal, ganhou um fecho.
7) Fringe (2008-2013)
Primeiro projeto de J.J. Abrams após o fim da bem-sucedida LOST. Um trio inusitado formado por um cientista louco, uma agente do FBI e um zé ninguém com bom senso vêem-se às voltas com um portal aberto para um universo paralelo (tema recuperado em Stranger Things). Impressiona o esforço empreendido para dar sentido e "verossimilhança" para esse possível outro universo e a química entre o elenco. Ficção científica levada a sério, sem a megalomania de LOST.
6) Além da Imaginação (1959-1964)
A grande pioneira da ficção científica na televisão. Criação visionária e experimental de Rod Serling, apresentava uma história independente por semana; sempre um comentário ou crítica à sociedade norte americana por meio de alegorias como extra-terrestres, zumbis, teorias da conspiração, paranormalidade e viagens no tempo.
5) Doctor Who (1963-)
Produzida pela BBC, há mais de 50 anos (com algumas interrupções) no ar, essa favorita dos ingleses já amealhou fãs ardorosos por todo o planeta. O "Doutor" do título é um viajante do tempo sem nome que luta contra forças malignas em prol da manutenção da humanidade como a conhecemos. Os metálicos e robotizados Daleks são seus inimigos mais recorrentes e a nave que o leva para cima e para baixo pela timeline do tempo-espaço, externamente, tem a aparência de uma cabine policial (pouca coisa maior que uma daquelas icônicas cabines telefônicas vermelhas britânicas), fácil de se achar nos circus e squares das cidades do reino à época.
Com a possibilidade do ator que interpretava o papel título ter que abandonar o programa por motivos de saúde já em seus primórdios, os roteiristas da série inventaram que o Doutor teria o poder de mudar de rosto e de se auto regenerar, conseguindo assim evitar algumas idelicadezas das leis da física - como a morte, por exemplo. O truque permitiu que nesse meio século o personagem já tenha sido interpretado por onze atores diferentes.
4) Arquivo X (1993 - 2002)
Os agentes Mulder e Scully, da divisão X do FBI, tornaram-se emblemas da cultura pop mundial e sua busca incansável pela "verdade" (que está lá fora, dizem) durou 9 temporadas, dois filmes e uma controversa minissérie lançada recentemente.
Com um arco dramático longo, costurado minuciosamente (podendo ser interrompido ocasionalmente por episódios independentes, para ser retomado logo em seguida), a cruzada solitária e perigosa dos dois federais, com personalidades opostas e complementares (ele, o visionário obcecado e ela a encarnação do ceticismo), ensinou a nós todos que tudo pode e deve ser questionado. - Menos a genialidade dessa série.
3) Star Trek, a Nova Geração (1987-1994)
Para muitos, as qualidades desse spin-off de Jornada nas Estrelas chegaria a superar as qualidades da matriz que o originou. Porém, se o universo dramatúrgico que o programa habita não tivesse sido estabelecido pela primeira série, essa Nova Geração - com o inspirador Capitão Picard (o ator shakesperiano Patrick Stewart) à frente - não teria se lançado ao espaço, a fronteira final. E também porque Data não é Spock.
2) Battlestar Galáctica (2003 - 2009)
Retomada da série homônima do final dos anos 70, provavelmente o programa que mais fundo foi em uma das questões centrais da experiência humana: o conflito entre criador e criatura (com ecos na ética, filosofia e religião). Entretenimento de primeira qualidade com pretensões (alcançadas) de discussão séria sobre a natureza dos homens, dos deuses que criamos e dos outros homens que podemos destruir nesse processo.
O alto nível do elenco (encabeçado por Edward James Olmos e Mary McDonnell) pode ser computado também como um dos responsáveis pela primazia da série.
1) Star Trek, Jornada nas Estrelas (1966-1969)
Audaciosamente, Kirk e sua tripulação foram (e continuam indo) até onde ninguém havia ido antes. Criada por Gene Roddenberry, é uma crítica contundente à sociedade norte americana da época. Em tempos de guerra fria, ele constrói uma Federação interplanetária onde russos e norte americanos lutam e trabalham lado a lado; celebra a política de direitos civis de JFK e LBJ com o primeiro beijo interracial da história da televisão; cria o protocolo (respeitado até hoje) que trata naves espaciais como navios e adota a hierarquia de patentes da marinha para "rankear" suas tripulações.
É uma série seminal e eterna. E ainda tem o Spock!
Menções honrosas
3rd. Rock from the Sun; Perdidos no Espaço; Túnel do tempo; Life on Mars; Planeta dos Macacos; Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D.; Enterprise; Sense8.
A televisão brasileira assistida por...
Ana Maria Magalhães, atriz; diretora de cinema
autora de Reidy: a Construção da Utopia e Lara
O que vale a pena:
Louvo a lei que estabeleceu na TV a cabo as cotas para a produção brasileira.
O que faz falta:
Uma programação cultural na TV aberta brasileira de hoje e de ontem. A TV é um instrumento de difusão de ideias, comportamento, e tem grande poder. Mas vira as costas para a cultura brasileira e mesmo a universal. Além disso, a TV aberta é restritiva à programação dos filmes brasileiros. Por quê?
*Alexis Parrot é diretor de TV e jornalista. Escreve às terças-feiras sobre televisão para o Dom Total.
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