sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Francisco de Assis, o homem configurado a Jesus

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Como Jesus, Francisco empobreceu-se para fazer comunhão com os pobres.
Humanidade de Jesus é modelo para Francisco.
Humanidade de Jesus é modelo para Francisco.

Por Felipe Magalhães Francisco*

O caminho do discipulado cristão é o de assumir a vida filial de Jesus, configurando nossa própria vida à vida desse que nos revela o coração do Pai. O Pobre de Assis, nas experiências que fez ao longo da sua história, revela-nos esse caminho de configuração de sua vida à imagem da existência de Jesus, plenamente entregue a seu Pai.

Paulo, na Carta aos Filipenses, exorta os fiéis a assumirem para si a vida de Jesus: “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus” (2,5). Essa é a condição de possibilidade para que homens e mulheres sejam reconhecidos santos. Santos e santas são aqueles que permitem que o Espírito santificador realize em suas vidas o mistério pascal de Jesus.

Ao olharmos para a vida de Francisco, conseguimos perceber sua associação a Jesus. A santidade de Francisco passa, necessariamente, pelo processo de humanização de sua humanidade, que tem em Jesus o paradigma. Em Jesus, toda a humanidade encontra um caminho possível de humanização, na retomada de sua vocação fundamental: a experiência de uma vida plena, realizada integralmente.

O caminho percorrido por Francisco de Assis nos ajuda a perceber a importância de configurarmos nossa vida segundo a vida de Jesus, como percurso necessário – a todos os cristãos – para seu processo de humanização. A continuidade do texto supracitado, da Carta aos Filipenses, que é a transcrição de um antigo hino cristológico, mostra-nos a força da vida de Jesus, o Deus que se fez pobre, que se humilhou – fez-se húmus – para revelar-nos o Pai. Ora, o despojamento de Francisco, um homem capaz de ficar nu para mostrar seu desprendimento, faz-nos olhar diretamente para a vida daquele – Jesus – que é o garantidor de toda vida.

Ao fazer-se pobre, Francisco de Assis nos ajuda a olhar para a humanidade de Cristo, num tempo em que a glória querida pela Igreja revelava uma cristologia de um Jesus todo-poderoso, e ainda hoje, quando teimamos em nos esquecer de Jesus como aquele plenamente humano, pelo exercício da liberdade que fez ao longo de toda sua vida na terra. Como Jesus, Francisco empobreceu-se para fazer comunhão com os pobres. E mais: na humildade, isto é, no ato de rebaixar-se ao chão (húmus), ambos revelam a comunhão com o pó que nos caracteriza.

Amando a pobreza, o Santo de Assis pôde viver a comunhão com todas as criaturas, irmanando-se a elas no testemunho de louvor ao Pai, Criador de todas as coisas. Fazendo-se um com todas as criaturas, Francisco nos mostra que o caminho da humanização passa, também, pelo reconhecimento da dignidade de toda vida criada, tal como Jesus, a Palavra a partir da qual tudo veio à existência.

Com Francisco, aprendemos que “as boas palavras, as boas ações e todo bem que Deus faz e diz no homem e pelo homem, pertencem a Deus, e devem ser-lhe restituídos em ação de graças. O homem só tem de próprio vícios e pecados. Também só pode gloriar-se de suas fraquezas e levar cada dia a cruz de Cristo. Ali se encontra a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e a salvação do homem”. Que sua vida, vivida à luz da cruz de Cristo, inspire-nos em nosso processo de humanização e que, na esperança de que realmente é possível, configuremos nossa vida, à vida daquele por quem Francisco foi apaixonado, o Cristo, pobre para nosso enriquecimento.

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* Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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