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Um paralelo entre as fontes de energias renováveis com o personagem mexicano: elas vêm para ajudar, mas dependendo da forma que as enxergamos podem atrapalhar.
Energia renovável pode ser considerada o Chapolin da humanidade?
Por Maraluce M. Custódio*
A energia renovável é muito louvada no Brasil e no mundo hoje. Mas o que é energia renovável? E por que toda essa fama?
A energia renovável é aquela que é produzida a partir de recursos naturais que são inesgotáveis ou que podem ser reabastecidos. As principais são:
a) eólica: proveniente da força dos ventos
b) maremotriz: proveniente da força das marés e ondas de rios e oceanos
c) fotovoltaica, vulgo solar: proveniente dos raios solares
d) de biomassa: proveniente da queima ou da decomposição de diversos materiais orgânicos dentre elas restos de plantas e lixo
e) hidrelétrica: proveniente da força das águas.
Basicamente hoje no Brasil, quase toda a energia que move nossas casas vem da energia hidrelétrica. Mas não funciona assim no resto do mundo! Boa parte do mundo se utiliza da queima de petróleo e gás natural - chamadas de fontes fosseis de energia- para se aquecerem ou produzirem energia, ou mesmo de energia nuclear produzida a partir da quebra de átomos de minerais radioativos. Estas fontes não são renováveis, pois provem de recursos teoricamente limitados, sendo que esse limite depende dos recursos existentes no nosso planeta; apesar de vir de materiais orgânicos também, resultam de várias transformações que requerem milhões de anos para acontecerem. Ambas não renováveis, pois, são limitadas e da forma que estamos explorando podem acabar.
A energia proveniente de fontes fósseis é hoje considerada uma vilã em nosso mundo, por expelir CO2 (gás carbônico) em grande quantidade na atmosfera e provocar o adensamento da camada da atmosfera, produzindo o chamado efeito estufa.
Na verdade, o efeito estufa sempre existiu, e é ele que garante a vida no planeta. Sem ele a temperatura da Terra seria abaixo de 5 graus impossibilitando que as plantas crescessem e boa parte dos animais sobrevivesse, inclusive nós. A emissão de CO2 também é algo normal. Nós e vários seres como as árvores o eliminamos, ao respirar, na atmosfera ou é emitido quando os seres morrem, pois todos em sua composição têm CO2. Mas em quantidades normais ele era quebrado e transformado em outros compostos não estacionando ali na atmosfera. Com a grande quantidade que é emitido hoje especialmente pela queima de elementos de fonte fóssil a atmosfera não está conseguindo eliminá-lo e por isso o CO2 (tem outros elementos também, mas ele é o mais emitido desde a Revolução Industrial) vem se acumulando, adensando a atmosfera e retendo mais calor que o natural e provocando a mudança do clima no planeta como um todo. É como se o planeta estivesse bêbado. Quanto mais se bebe álcool mais o organismo é contaminado e por isso vamos perdendo as funções normais (cambaleamos, ficamos alegres ou tristes em excesso rs) até o momento em que bebemos muito e o organismo para não deixar que a morte ocorra entra em coma alcoólico. No momento a atmosfera ainda está no começo da bebedeira, apenas com poucas doses, mas já se percebe o efeito com frio, calor e chuvas em épocas não esperadas ou de forma mais intensa que o comum.
Cientistas comprovaram que essa “bebedeira” da atmosfera está ligada a emissão de CO2 por combustíveis fósseis e por isso vários países do planeta assumiram o compromisso de diminuir sua emissão, através do conhecido Protocolo de Quioto. Nele e em outros Tratados Internacionais (contratos que os países assinam se concordarem com seus termos) nações, dentre elas o Brasil, se comprometeram a buscar novas fontes de energia e aí entra em jogo a energia proveniente das fontes renováveis que falamos acima. Elas são vistas como aquele “docinho” que vai diminuir a bebedeira, ops! O excesso de CO2 na atmosfera!
Assim, a energia que vem de fonte renovável tem sido considerada a nossa grande heroína. É como se no momento de excesso de emissões de CO2 disséssemos "Oh! E agora quem poderá me defender?" E surge a energia renovável dizendo “Eu!” Como o bom e velho Chapolin Colorado.
Aos que não conhecem (principalmente as novas gerações), o Chapolin Colorado é um dos personagens de uma série mexicana de televisão da década de 70 do século XX, que ainda é exibida na televisão brasileira. Criada e estrelada pelo ator e escritor Roberto Gómez Bolaños, a série na verdade é uma parodia aos famosos heróis norte-americanos. Nosso herói, vem para ajudar com toda a boa vontade, mas faz muitas trapalhadas e por vezes acaba atrapalhando mais que ajudando.
Mas porque a energia renovável seria um Chapolin? Pelo mesmo motivo, ela vem para ajudar, mas dependendo da forma que a enxergamos pode atrapalhar. O problema é que confundimos energia renovável com energia limpa. A grande verdade é: não existe energia limpa! Oooohhh! Sim, infelizmente toda forma de produção de energia pode causar danos ao planeta!
O grande problema é que isso não é informado, como quando nosso herói Chapolin Colorado chega e não nos é dito que ele é muito atrapalhado! A energia renovável é chamada de limpa porque durante o momento em que está sendo produzida, ela não produz CO2 nas quantidades exorbitantes das fontes fosseis. Mas na conta NÃO são desconsiderados a quantidade de CO2 e os outros vários impactos na natureza antes e depois da produção. A euforia de utilizá-las pode a médio prazo também desequilibrar o planeta de outras formas, como o Chapolin que várias vezes ao invés de ajudar piora a situação.
Mas o que fazer então? Bom, mais que procurar novas fontes de energia, temos que começar a pensar o quanto de energia gastamos de forma desnecessária, ou seja, diminuir o desperdício. Usar de forma consciente para que ela nunca falte e para que sua produção não tenha que ser cada vez maior gerando mais resíduos e problemas no planeta.
Pense nisso e “sigam-me os bons! ”
(Texto com a ideia dada por Rodrigo Romano Torres.)
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Maraluce M. Custódio é Mestre em Direito Constitucional pela UFMG. Mestre em Direito Ambiental pela Universidad Internacional de Andalucía (Espanha). Doutora em Geografia pela UFMG em cotutela com a Université DAvignon (França). Professora da Graduação e Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito da Dom Helder Escola de Direito - Mestrado em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
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