O Catholic Cook Book é um livro de receitas para católicos e aqueles que querem aprender sobre o catolicismo e como isso se relaciona com a comida.
Se você está cozinhando para e com os outros, mesmo que a qualidade da comida não seja perfeita, compartilhar a experiência faz tudo valer a pena. (Toa Heftiba/ Unsplash)
Por Vivian Cabrera*
Minha paixão por passar incontáveis horas em uma cozinha superaquecida começou pouco depois de me formar na faculdade, quando percebi que tinha tempo para criar deliciosas receitas inspiradas no Pinterest.
O Pinterest continuou sendo minha principal fonte de inspiração até que o The Catholic Cook Book (O livro de cozinha católica) apareceu na minha mesa. Nada parecia mais apropriado para uma garota católica que uma vez passou um mês procurando pelo avental perfeito (marrom e amarelo-mostarda com uma imagem de bicicleta moderna) e se empolga com morim para queijos e rolos de cozinha.
O Catholic Cook Book, publicado em 1965 e com prefácio do ex-editor americano Robert I. Gannon, S.J., é exatamente isso: um livro de receitas para católicos e aqueles que querem aprender sobre o catolicismo e como isso se relaciona com a comida. É dividido por tempos litúrgicos, e explica o que cada tempo significa e como cada período é celebrado em diferentes partes do mundo. O livro inclui receitas para os tempos mais comuns como o Advento, Natal e Quaresma, bem como alguns dias de festas menos comuns (Santo Estêvão, os Santos Inocentes, São Lourenço da Hungria) e uma seção geral para ocasiões festivas e dias de jejum e abstinência.
O livro me deu a oportunidade de me educar a mim mesma e a minha família e amigos sobre as tradições da fé em todo o mundo. Você sabia que o 28 de dezembro é a Festa dos Santos Inocentes? Comemoramos os filhos mortos por Cristo por ordem do rei Herodes, data que foi celebrado na Europa a partir do século XI. Nesse dia, era costume servir “comida para bebês” para as crianças das famílias e também para os noviços em comunidades religiosas. E ainda tem mais coisas para aprender.
Meu plano era direto: ler o livro, escolher três receitas e prepará-las. O que eu não estava preparada era para a abundância de opções de receitas. Percebi que essas receitas, vindas da Europa Central e Oriental, da América Latina e do Caribe, eram adaptadas para famílias muito grandes (típicas católicas). Para uma festa de uma pessoa, tive que encurtar um pouco o trabalho para mim.
Em homenagem aos três anos que passei no Canadá, comecei com uma torta de Natal ou tourtière, do Canadá francês. A torta pedia três tipos diferentes de carne, incluindo carne de porco. O uso da carne de porco, aprendi, deriva do simbolismo pré-cristão e indo-europeu do porco, destinado a ser um sinal de fertilidade e prosperidade. O livro dizia que hoje, a carne de porco é perfeita para ocasiões festivas porque simboliza o “espírito de alegria, solenidade e felicidade” que acompanha celebrações como o Natal.
A receita parecia bastante fácil: derreta a manteiga, refogue algumas cebolas, acrescente a carne (mais ervas e temperos) a uma panela de ferro fundido, cubra com uma massa de torta e coloque-a no forno por uma hora e meia.
No processo, aprendi da maneira mais difícil não colocar a massa sobre a massa até que a frigideira esteja completamente fria, a menos que você queira desperdiçar uma massa de torta. Eu salvei esta torta e, embora não fosse a mais bonita, ainda era muito saborosa.
O Advento é um tempo de penitência alegre, como uma Quaresma feliz. Deixe-me dizer-lhe, nada diz “penitência alegre” como o que me aconteceu quando tive que ir em todas as lojas no meu bairro em busca de um rolo (eu quase tive que comprar um pela internet e pedir para ser entregue pelo Whole Foods, empresa exclusiva de alimentos. Vocês imaginam que isso pode acontecer em Nova York?) e passar três horas tentando enrolar a massa perfeita de pierogi. No final, não consegui dominar a receita e encontrei uma receita de massa do Pinterest. Perdoe-me, menino Jesus!
Agora a história completa. Eu também fiz pierogies de batata, que não foram incluídos no livro. O recheio e a cobertura dos pierogies de batata pareciam simples. O recheio da massa com uma mistura de queijo cottage e groselha vermelha foi desastroso. A massa estava muito áspera ou muito mole, e eu não conseguia selar os pierogis adequadamente para impedir que o líquido se derramasse ou impedir que eles grudassem uns nos outros. Não foi até o dia seguinte que aprendi (de um jesuíta, imaginem!), tinha que drenar o queijo em um morim, uma nota que ficou faltando na receita.
Finalmente entendi por que ninguém além das avós polonesas mais experientes fazem pierogies em casa. Isso mesmo. É. Difícil. A única coisa boa que saiu dessa experiência em particular foi o meu novo amor pelo queijo cottage, e os pierogies de batata não ficaram nada ruins.
A receita final era um Easter Kaesekuchen, ou cheesecake da Europa Central. Esta receita finalmente me permitiria usar o meu pano para drenar queijo ou morim e a forma de assar com fecho. A Páscoa é o dia mais sagrado do ano - e a razão pela qual somos cristãos - e os bolos de Páscoa são variados e também são diferentes de país para país. Esta receita única pediu queijo cottage em vez do cream cheese típico.
Eu peneirei o queijo, bati os ovos duros e deitei os biscoitos. Em pouco tempo, juntei todos os ingredientes, coloquei na panela, acrescentei uma camada de bolachas esfareladas no topo e coloquei no forno esperando o melhor.
Veredicto: delicioso! Era uma sobremesa de partes iguais de queijo e bolo, ao contrário de cheesecakes tradicionais com o peso avassalador de cream cheese.
Eu não segui nenhuma das receitas ao pé da letra, principalmente porque algumas das instruções não foram muito claras. Mas cozinhar não é sobre fazer tudo igual senão possuir criatividade e adicionar seu próprio sabor? Descobrir como fazer uma receita sua, enquanto também se apoia em seus amigos e familiares pedindo algumas dicas?
Todo mundo tem uma receita perfeita neles. Leva apenas algumas horas, uma oração ou duas e algumas tentativas para descobrir.
E se você está cozinhando para e com os outros, mesmo que a qualidade da comida não seja perfeita, compartilhar a experiência faz tudo valer a pena. Afinal de contas, comida e pessoas pertencem juntas, como a cenoura e o chocolate fazem parte de um bolo.
America Magazine - Tradução: Ramón Lara
*Vivian Cabrera é assistente editorial da Revista America.
Nenhum comentário:
Postar um comentário