quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Carnaval solidário

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Se a chuva cai em gotas, cada folião pode se transformar numa gota de solidariedade


Se a chuva cai em gotas, cada folião pode se transformar numa gota de solidariedade
Se a chuva cai em gotas, cada folião pode se transformar numa gota de solidariedade (TV Brasil)
Por Jorge Fernando dos Santos
Apesar das enchentes, o prefeito Alexandre Kalil insiste em realizar o Carnaval. Suspender a festa implicaria em prejuízos para o comércio local e os patrocinadores. São esperados na cidade cerca de 5 milhões de turistas. Diante disso, que tal a PBH promover uma campanha visando engajá-los no esforço de ajuda aos desabrigados?  
A ideia é simples. Cada visitante poderia doar uma escova de dentes e um creme dental, um sabonete ou algum outro artigo de higiene a ser entregue ao Servas e encaminhado às vítimas dos temporais. Donativos baratos e não perecíveis, fáceis de carregar.
Se a chuva cai em gotas, cada folião pode se transformar numa gota de solidariedade. Sobre a festa momesca propriamente dita, não se trata de ser contra ou a favor, mas é fundamental garantir a segurança dos participantes. BH tem sofrido cada vez mais com a fúria das águas, que não têm hora nem lugar para cair.
Meteorologistas alertam que os temporais devem continuar até o final de fevereiro. Como no samba de Chico Buarque, ao que tudo indica, as chuvas mais fortes estão se guardando pra quando o Carnaval chegar. Nessa hora valeria cantar a marchinha Saca rolha, de Zé da Zilda e Waldir Machado: “As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar...”    
Lições da natureza
Segundo reportagem publicada em O Globo, as administrações de Márcio Lacerda e Alexandre Kalil investiram apenas 20% do previsto na prevenção das enchentes. De 2013 a 2019, a cidade projetou R$ 3,7 bilhões em investimentos, mas apenas R$ 740 milhões teriam sido empenhados.
Em visita ao Estado, na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a liberação de R$ 1 bilhão para os municípios arrasados pelas chuvas. Do valor reservado a BH, Kalil deveria separar uma fatia para a recuperação do Arrudas e dos córregos poluídos – quase todos engaiolados em jaulas de concreto.
Eis uma boa oportunidade para fazer o dever de casa, começando por separar o esgoto da água das chuvas e das nascentes, liberando várzeas e melhorando a drenagem. Além de reduzir o impacto das enchentes, a medida certamente teria reflexo positivo na saúde pública.
Também não seria má ideia substituir parte do asfalto da cidade por pisos permeáveis, principalmente em torno dos passeios, onde os carros estacionam. Tal medida aumentaria a penetração da água da chuva no subsolo, diminuindo o volume e a velocidade das enxurradas.
Com pequenos ajustes, a administração municipal daria provas de ter aprendido as lições da natureza. Temporais são inevitáveis. No entanto, com a devida prevenção, é possível diminuir os danos. A população contribuiria muito se não jogasse lixo nas ruas e nos canais de escoamento. Os foliões, por sua vez, poderiam pelo menos não urinar na calçada.
Se a verba federal for usada para repetir o malfeito, melhor seria que não tivesse sido liberada. Cometer os erros das gestões passadas será o mesmo que jogar dinheiro por água abaixo – e uma boa maneira de perder votos nas próximas eleições.
Jorge Fernando dos Santos
Jornalista, escritor, compositor, tem 44 livros publicados. Entre eles Palmeira Seca (Atual), Prêmio Guimarães Rosa 1989; ABC da MPB (Paulus), selo altamente recomendável da FNLIJ 2003; Alguém tem que ficar no gol (SM), finalista do Prêmio Jabuti 2014; Vandré - o homem que disse não (Geração), finalista do Prêmio APCA 2015; e A Turma da Savassi (Miguilim).

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