sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Outro dia o jornalismo era outro

O que em comum tem as melancólicas digressões sobre uma profissão que se esvai entre os dedos?

Por Ricardo Soares*
Marceu Vieira é um talentoso jornalista carioca com alma de cronista. E dos bons. Daquele estilo que remonta ao melhor de Paulo Mendes Campos ou Rubem Braga. Um tipo que sabe que crônica não é artigo, mero repositório do que acontece na atualidade, mas sim sua reinterpretação lúdica e poética.
Eu só conheço o Marceu Vieira de (bom) nome e de 115 amigos que o Facebook diz que temos em comum. Outro dia  através de um link colocado pelo jornalista e escritor  Fernando Molica no próprio Facebook tive acesso a mais do Marceu através de um lindo texto dele publicado no jornal “O GLOBO” sobre o triste ocaso do jornalismo pátrio tal qual o conhecíamos. O texto chamava-se “Sobre quase tudo que aconteceu outro dia”.
Antes que ressurja, seja de que jeito for, o fim  desse jornalismo tem provocado belas reflexões como a que nos deu o Marceu Vieira e  o próprio Molica, outro talentoso jornalista carioca com alma de cronista que conheço pessoalmente e com quem já mantive boas prosas.

O que em comum tem todas essas melancólicas digressões sobre uma profissão que se esvai entre os dedos? o desalento, a falta de perspectiva, a melancolia nada embutida provocada pelo que considerávamos eterno mas acaba? Acho, de verdade, que não é nada disso.É que  "Outro dia" muitas coisas e situações eram de “outros jeitos” como lembra  o Marceu Vieira. Hoje nos sentimos como os condutores de carroças quando surgiram os carros como recorda o Fernando Molica. Enfim . Seremos apenas aqui reunidos burros velhos a puxarmos velhas cargas que já não importam? Espero que não. E espero também que se pare de criticar quem se entristece com esse estado de coisas. Como se para ser “muderno” não se pudesse chorar o passado. O futuro está aí e não sabemos como será nossa assimilação a esse novo “mercado”. Mas, convenhamos, também não haverá um grande futuro no jornalismo se não fizermos um inventário de nossas perdas. Estão querendo nos negar o direito de chorar um defunto querido. Mesmo que ele reencarne lépido em breve temos o direito de pranteá-lo.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Autor de 7 livros foi cronista dos jornais “O Estado de S.Paulo”, “Jornal da Tarde”, “Diário do Grande Abc” e da revista “Rolling Stone”

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