sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Enfim, justiça para os jesuítas assassinados em El Salvador

Depois de 25 anos de impunidade, o primeiro suspeito será extraditado para Espanha.

Por Linda Cooper*
Poucas horas depois que a decisão de extraditar o coronel Inocente Orlando Montano foi tornada pública, a Polícia Civil Nacional, de El Salvador, começou a vasculhar as casas de outros suspeitos também procurados pela Espanha por tramar e realizar o massacre de 1989. Cinco dos seis sacerdotes mortos eram cidadãos espanhóis.
Em 2011, o juiz da Corte Nacional espanhola Eloy Velasco Nunez indiciou vinte militares salvadorenhos relacionados com o massacre e, em seguida, encaminhou pedidos de prisão à Interpol. Porém as autoridades salvadorenhas se recusaram a fazer as prisões, citando uma polêmica lei de anistia salvadorenha de 1993 que garante proteção a criminosos de guerra.
Fontes conhecedoras do caso disseram que a decisão histórica da magistrada americana Kimberly Swank, no caso de Montano, provavelmente dê às autoridades salvadorenhas a cobertura de que precisavam para prender ex-oficiais do alto escalão em um país onde os militares ainda possuem um poder enorme.
Montano é a mais alta autoridade na história recente a ser extraditada dos EUA por violações dos direitos humanos. Na época do massacre, Montano atuava como vice-ministro da Defesa para a Segurança Pública, estando no comando da Polícia Nacional, da Polícia do Tesouro e da Guarda Nacional.

A operação para eliminar Ellacuría e todas as testemunhas foi levada a cabo no dia 16 de novembro de 1989.
Em sua decisão de 23 páginas, Swank disse que as evidências mostram que Montano participou de assassinatos “terroristas” e que esteve presente em reuniões fundamentais onde o alto comando tramou o assassinato do padre jesuíta Ignacio Ellacuría, reitor da Universidade Centro-Americana.

Ellacuría vinha também trabalhando como negociador buscando mediar um acordo de paz entre o governo salvadorenho apoiado pelos EUA e a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional – FMLN. As negociações de paz incluíam discussões sobre tirar os militares daqueles cargos ligados a atrocidades.
A operação para eliminar Ellacuría e todas as testemunhas foi levada a cabo no dia 16 de novembro de 1989 por uma unidade antiterrorista treinada pelos americanos, que invadiu a Universidade Centro-Americana, em San Salvador, e estourou os miolos dos jesuítas com armas de alta potência. Os assassinos em seguida executaram a trabalhadora doméstica dos religiosos, Julia Elba Ramos, e sua filha Celina.
Ellacuría e os padres jesuítas Ignacio Martín-Baró, Segundo Montes, Juan Ramón Moreno e Amando López eram cidadãos espanhóis. O sexto padre, Joaquín López y López, era de El Salvador.
Em sua decisão no caso Montano, Swank conclui que “um oficial do governo que age em colaboração com outros do lado de fora do escopo de sua autoridade legal [para cometer um crime hediondo] pode, com razão, ser considerado membro de uma gangue armada sob o estatuto de assassinato terrorista espanhol”.
O coronel Inocente Montano se formou em engenharia pela universidade jesuíta onde o massacre ocorreu.

As conclusões da juíza foram “completas, eruditas e abrangentes em seu escopo”, disse Patty Blum, assessora jurídica do Center for Justice and Accountability – CJA, organização americana de direitos humanos sem fins lucrativos. A CJA foi quem entrou com o pedido de extradição original junto à corte espanhola em 2008, com a ajuda da Associação Espanhola para os Direitos Humanos.
Ao caracterizar Montano como um terrorista, segundo Blum, a decisão do tribunal se constitui numa “resposta aos anos de luta do povo salvadorenho contra militares repressores que tentaram inverter a realidade chamando qualquer um que a desafiasse – inclusive os padres jesuítas – de terrorista”.

Montano se formou em engenharia pela universidade jesuíta onde o massacre ocorreu. Ele também se formou na Escola das Américas, instituição do exército americano, em Fort Benning, Geórgia, atualmente conhecida como Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança.

Memória da chacina. Veja o vídeo:
*A reportagem de Linda Cooper e James Hodge, foi publicada por National Catholic Reporter. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário